Quando estava visitando a Escola
da Ponte, em Portugal, perguntei aos quatro alunos que nos recepcionavam se
eles tinham e podiam usar o celular a qualquer momento do dia escolar, e como é
que isto era feito?
A resposta que a garota do último
ano ─ que corresponde à nona série do Ensino Fundamental no Brasil ─ nos deu
foi a seguinte. Primeiro ela tirou o seu celular do bolso traseiro e
verbalizou: “eu tenho celular, mas fica desligado o tempo todo. Tenho o direito
de usar quando for preciso para ligar, por exemplo, para os meus pais; para
isso é só eu falar com o meu tutor (professor responsável pelo ano). Porém,
quando se usa indiscriminadamente, sem utilidade, e quando esse hábito pode atrapalhar
a aprendizagem dos alunos e dos colegas, o celular pode ser retirado e somente
os pais poderão resgatá-lo. Isto é uma regra a ser cumprida por todos nós”.
Vejam só! Os alunos possuem noção
dos seus direitos e dos seus deveres e possuem consciência do papel da escola
na vida deles; mais do que isto, eles estudam por vontade e autonomia e não por
imposição! A diferença é a consciência de ser e de se sentir um cidadão, aquele
que possui respeito e que, na prática, exerce o seu direito de ir e vir, assim
como o dos outros também.
Algumas escolas no Brasil proíbem
o uso do celular, outras aproveitam esta tecnologia em sala de aula para a
aprendizagem, mas vejo situações ruins que acontecem, desde o ensino
fundamental e até o ensino superior, em que os alunos ficam grande parte do
tempo na internet fazendo uso indevido e inapropriado do aparelho em sala de
aula, ou seja, não fazem uso da tecnologia para ampliar seu conhecimento em
sala de aula, mas para entrar em redes sociais e em aplicativos referentes à
sua vida pessoal. Já presenciei o uso do celular para ironizar alguns
professores e até mesmo outros colegas!
Penso que o uso do celular, ou
até mesmo da internet em sala de aula, precisa ser revisto no Brasil; esta é
uma discussão que perpassa não somente o uso da tecnologia, mas o que os alunos
querem e esperam do aprendizado em sala de aula? O que pensam, sentem e como agem?
Qual a real vontade que possuem de estudar? Enfim, ampliando um pouco mais esse
questionamento, como está nosso ensino e nossa sociedade? Qual é o valor que se dá ao estudo hoje no
Brasil?
São tantas as indagações e
problemas que enfrentamos hoje, no Brasil, desde a educação infantil até o
ensino superior, que o uso indevido do celular em sala de aula gerará mais que
somente um debate, mais uma nova forma de “ver e fazer educação”, ou até mesmo
uma nova forma de ver e fazer uma sociedade brasileira. Não acho que estamos
dando a devida atenção ao que chamamos de educação neste país! Para mim, a
educação brasileira está falida há tempos e merece uma reestruturação.
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