sexta-feira, 24 de junho de 2016

Circo na escola sustentável: o encontro e a expressão juntos

O circo na escola é mais um elemento de expressão, de coordenação motora ampla, de socialização, de desenvolvimento da autonomia, confiança, prazer e motivação. É uma prática corporal e recreativa que foge dos exercícios físicos convencionais, mas desperta o encontro consigo mesmo por meio dos exercícios corporais e da expressão do público. Aprender a lidar com a repetição de exercícios para se fazer algo apresentável requer disciplina em todos os sentidos. Assim, dormir, beber e comer bem são atividades essenciais para a prática de qualquer exercício físico; mas aprender a se apresentar, a sentir a emoção de si e do público é algo importante para a autoestima e também para aprender a se posicionar diante do outro.
Nos jogos e brincadeiras circenses temos exercícios de acrobacia, malabarismo, trapézio, contorcionismo, além de mágicas e palhaços, fundamentais para o reconhecimento e a superação de sentimentos e emoções como medo, vergonha, alegria, satisfação e coragem.

Por meio de jogos, brinquedos e brincadeiras circenses as crianças ampliam o conhecimento de seu corpo, de suas emoções e sentimentos, além de vivenciarem melhor a relação com o outro e com o mundo que a cerca. Desenvolvem várias linguagens ao mesmo tempo, exploram diversas situações com objetos que não fazem parte do seu dia a dia, organizam seus pensamentos, sentimentos e ações, descobrem e agem com regras e habilidades para desenvolverem os exercícios, assumem papéis dos mais variados tipos aprendendo a se colocar no lugar do outro, enfim, são inúmeras as contribuições que essas atividades oferecem na prática real da socialização.

Não estou aqui montando uma escola de circo, não é isto! O que proponho é o uso de técnicas e habilidades circenses para educar a criança de forma integral e integrada, oferecendo uma educação para a vida ─ coisa que a escola tradicional não consegue proporcionar! Os jogos circenses de solo, aéreos, malabarismos, Clown, possibilitam educar o equilíbrio, a comicidade, a improvisação, elementos importantíssimos para utilizarmos em nossa vida social diante das diversas situações que nos são apresentas. Quando está impresso no cérebro da criança, como experiência vivida, algumas atividades dos exemplos acima expostos, ela poderá fazer uso, em sua vida futura, de recursos internos que ali estão como, por exemplo, superar o medo, as frustrações e outras coisas, procurando um jeito de se sentir e de ser uma pessoa mais feliz. 


Quando a escola só se preocupa com o intelecto, ela não ensina resolver problemas além dos de matemática que fazem uso do raciocínio e que são expressos no papel. Então, quando as crianças saem desse universo teórico e conceitual ─ apenas ─ elas não conseguem resolver situações do dia a dia e da vida que estão muito mais presentes e desafiadoras que os problemas de raciocínio expressos em uma folha de caderno ou de prova. Falta-lhes essa inteligência e sabedoria que prevê o equilíbrio de suas ações, palavras e atitudes... a inteligência de aprender a vivenciar o que verdadeiramente aprendeu na escola de forma significativa em sua vida. Por isso, não acredito e não quero esse tipo de escola! Penso em uma escola que verdadeiramente prepare nossas crianças e jovens para a vida desta nossa sociedade do terceiro milênio! Por isso, aproximar a arte circense da escola é uma missão importante para os educadores e recreadores, para que possam propiciar viabilidade prática a esta significativa arte de educar pensando na vida.

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Trabalho com oficinas: mecânica, elétrica, hidráulica e cerâmica

Nós só valorizamos algo, quando sabemos o trabalho que dá para fazer aquilo. Este princípio aprendi desde pequena; na minha infância, não se falava em consumo consciente, este termo é novo, e é exatamente isto que desenvolvemos quando sabemos fazer algo útil para nossa vida.

Na escola sustentável que vislumbro, toda criança terá como currículo ─ e como verdadeira experiência e ação ─ oficinas de mecânica, elétrica, hidráulica e cerâmica relacionadas às utilidades do nosso dia a dia. Trocar uma lâmpada, a extensão de um chuveiro, arrumar uma torneira que esteja pingando, ou seja, coisas fáceis de serem feitas, que reduzem o desperdício de energia e de água, e que ensinam, ao mesmo tempo, a fundamentação daquele sistema.

Pequenos reparos que podem ser aprendidos na escola podem proporcionar a reflexão e o estudo sobre o consumo consciente; por exemplo, uma torneira pingando gasta litros e litros de água em um só dia e nem sempre dispomos de profissionais para virem com a rapidez necessária consertar o estrago. No entanto, se ensinarmos esses pequenos reparos na escola, evitamos o desperdício de um bem natural tão precioso como a água, além de ensinarmos, de maneira prática aos alunos, como realizar pequenas manutenções. Uma escola sustentável pensa em ações que ajudem no dia a dia da criança e da sociedade em todos os seus aspectos. São oficinas simples, mas que poderão fazer toda a diferença quando se trata de consumo consciente.

Precisamos educar as crianças a gerarem menor consumo de eletricidade; em uma oficina sobre lâmpadas de LED, por exemplo, elas aprendem o gasto gerado de energia por outros tipos de lâmpadas, entendendo como devem ser usadas em casa para diminuir o consumo de eletricidade. Estas oficinas possuem este papel, porém, é necessário um ambiente propício para que elas aconteçam. Oficinas de cerâmica, além da parte artística, as crianças aprendem a fazer objetos que poderão ser vendidos na loja da própria escola, para que outras pessoas comprem e os utilizem gerando, desta forma, o conhecimento do aprender a fazer, a vender e, mais do que isto, a importância do consumo consciente ao lado do fator econômico: noções básicas de empreendedorismo. O conceito de sustentabilidade vai além do ambiental porque abrange, também, aspectos econômicos e sociais.  Só se aprende, de fato, se soubermos como produzir, para quê produzir, como vender e como saber utilizar o recurso financeiro proveniente de forma a agregar valores sociais. Esta é a economia solidária sustentável tão discutida em países de primeiro mundo.


quarta-feira, 22 de junho de 2016

Uma criança saudável: uma escola saudável!

Para que uma criança se desenvolva de forma saudável ela precisa de uma família e de uma escola que possa proporcionar a ela este desenvolvimento. Uma escola que a deixe ser uma criança espontânea, barulhenta, inquieta, emotiva e colorida.

Uma escola que a deixe ser ela mesma, que a eduque para a vida no seu todo. Crianças precisam se mover, aventurar, jogar, brincar, rir, chorar, procurar notícias, entreter-se, estudar, ler, dançar, cantar, pular, ver TV, usar o tablet,  o computador, ou mesmo o celular, enfim viver e fazer contato com um pouco de cada coisa.

Uma criança não nasceu para ficar quieta ou sentada na frente de aparelhos eletrônicos; também não deveria ficar amuada. Criança saudável é livre para ser ela mesma; não deve ser adulta em miniatura. Não devemos querer que se apresse este período da infância; toda criança precisa maravilhar-se com o mundo, pois, somente assim ela terá a garantia de uma vida emocional, social e cognitiva rica em conteúdos saudáveis, em lugares que a encantam, em contato com a natureza que lhe apresenta perfumes e cores próprias, cheia de felicidades e de conhecimentos.

Quando uma criança é ela mesma e pode brincar, jogar e se expressar, ela regula o humor e a ansiedade, promove atenção, aprendizagem e memória; reduz o stress, favorece a calma, o bem estar e a felicidade; amplia sua motivação física que impulsiona um dormir melhor, promovendo um estado de imaginação e de criatividade igualmente saudáveis. A escola e a educação, como um todo, está informando por demais as crianças, proporcionando um excesso de opções, acelerando a velocidade e o ritmo de seu desenvolvimento.

Uma criança saudável vive em uma escola que simplifica a infância e a educa bem de forma integral e integrada com a natureza; uma escola que oferece um espaço no qual ela possa explorar, refletir e aliviar as tensões características da vida cotidiana. Sim, as crianças precisam estar ao ar livre, já que a natureza propicia seu desenvolvimento potencial criativo. A experiência com o sol, com a sombra, com o vento, com a brisa, com a chuva e com o calor propiciam surpresas e descobertas. Desta forma, a escola se abre para a vida com os seus conhecimentos, trabalhando em torno deles para ampliarem sua percepção de si mesmo, do outro, do mundo e da vida. Esta é a maneira de ser saudável e de educá-las para serem pessoas de sucesso.


Quando uma criança não se suja e não precisa de um banho, é por que ela não está sendo criança. Ela está enfurnada em casa, em prédios de concreto, em contato com objetos de plástico, com brinquedos prontos e superficiais, deixando de viver uma vida de criança saudável, vivendo uma infância artificial. Por isso, a escola precisa ser uma escola que permita que a criança seja criança. Ora, ser criança é ser ela mesma, é ser natural e estar em contato com a natureza de si, dos outros e do mundo que a rodeia.

terça-feira, 21 de junho de 2016

A importância dos trabalhos manuais de uso natural

Ao longo dos últimos anos nossa educação deixou de lado algumas brincadeiras manuais para dar lugar ao uso excessivo de tecnologia, tais como tablets, celulares e computadores. Não vemos mais crianças brincando na rua, criando seus próprios objetos com papéis, gravetos, tecidos, terra, tinta e água.

As crianças estão deixando de vivenciar situações manuais que estimulam várias áreas do cérebro; sua criatividade está voltada para o eletrônico. As atividades manuais devem fazer parte da vida integral e integrada das crianças porque possibilitam que elas criem com diferentes materiais e desenvolvam a coordenação motora fina; além disso, são estimuladas a pensar e a resolver problemas. 

Toda criança tem a tendência de mexer e de transformar os objetos que estão à sua volta, mas elas fazem isso de acordo com sua vivência de mundo. A criação é sua forma de expressão, corresponde à sua sensibilidade e imaginação; então, isso não é possível de acontecer com os brinquedos prontos já que estes não desafiam o pensamento infantil: se eles já estão prontos, nada há que se acrescentar! Tudo está pronto e acabado, trazendo uma marca explícita que passa a estimular o consumo desenfreado e a comparação entre os colegas e/ou as famílias.


Quando observo esses pontos, não quero dizer que as crianças devam viver fora do mundo tecnológico! Não é isso! O momento atual incita e estimula ao uso das novas tecnologias, mas é preciso que se retome o contato com a natureza e, principalmente, que os alunos possam criar e produzir seus próprios brinquedos com materiais diversos, pois é assim que conseguirão adquirir mais experiências por meio do tato, da sensibilidade, da textura e do calor. E isso não quer dizer fazer qualquer coisa de qualquer jeito! Quanto maior o desafio, mais estímulo à ética e à estética! Criar e confeccionar os próprios brinquedos possibilita o desenvolvimento de áreas do cérebro que contribuirão para sua vida como um todo. Pensem nisso!

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Educação de corpo e sentidos pelo caminho da experiência

Atualmente muito se fala em educação integral, mas confunde-se o termo e a forma como ele vem sendo aplicado nas escolas. Educação integral é algo no qual são levados em consideração no planejamento escolar todos os aspectos de desenvolvimento de uma criança: aspectos físicos (saúde e motricidade), emocionais e cognitivos. Estes aspectos estão inseridos em uma cultura que propicia ao sujeito desenvolver um jeito de ser, de pensar e de agir compatível ao mundo que o rodeia. Quando essa compatibilidade não se adéqua ao contexto social, dizemos que o indivíduo é um marginal, ou seja, que ele está à margem do fluxo pelo qual a sociedade caminha.

Bem, vamos lá com os conceitos de ser integral: Com as novas pesquisas em neurociências descobriu-se que o cérebro não é usado em sua totalidade em nossas escolas, privilegiando muito mais a área da cognição em detrimento da emocional e da motora. A escola acaba ignorando estes dois aspectos, pois não reconhece o corpo do indivíduo como fazendo parte de seu sistema integral; e ainda pior: não reconhece suas emoções e sentimentos. Não adianta aumentar o tempo na escola e não proporcionar outras atividades para as crianças além das cognitivas, como aulas de reforço que muitas escolas que dobram período, ou algumas ONGs, acabam fazendo. O planejamento escolar do dia deve conter atividades que desenvolvam a criança em sua totalidade.

Acredito que o primeiro ensinamento que devemos proporcionar aos pequenos é que temos um corpo que nos possibilita fazer muitas coisas; esse aprendizado deve ser realizado pela experiência, por exemplo, brincar de não movimentar as pernas, estando sentado em uma cadeira, para perceber o valor de se poder andar e correr, e de considerar como é a vida de um cadeirante. Essa atividade poderia ser dada com poucos obstáculos e dificuldades, na educação infantil, mas poderia ser mais ousada e dificultosa no ensino fundamental.  Outra atividade poderia ser a de se fazer em duplas a brincadeira “o Cego e o Guia”, onde um dos alunos está com os olhos tampados por um lenço e o outro colega lhe direciona pelos lugares informando o que tem pelo caminho, ou como poderia fazer para encher um copo com água e beber. Esses exemplos vivenciais ensinam, na prática, o valor dos sentidos dentro de nossa sobrevivência e da vida social. No entanto, quando esse tipo de atividade se realiza, por um profissional da educação, na maioria das vezes isso ocorre em escolas de educação infantil como um simples entretenimento, geralmente em dias de chuva! Ainda não vi esse tipo de atividade acontecer no ensino fundamental, pois neste nível o pedagogo acaba por ignorar corpo e movimento ─ porque também ele é convencido de que isso faz parte do brincar na educação infantil ─ acelerando as crianças para aprender letras e números ou para pintar dentro dos espaços limitados dos desenhos.

Para conhecermos a nós mesmos precisamos nos tornar bons observadores de nossos sentidos e movimentos; precisamos nos lembrar de que os alunos estão em processo de desenvolvimento neuro-psico-motor. Como pedagogos precisamos oferecer experiências para que as crianças e os jovens possam exercitar a observação em si e no outro, que possam compartilhar da experiência pela motricidade e comunicação, vivenciando personagens de contos e fábulas, ou mesmo personagens da vida real, e que isso possa ser experienciado por meio de jogos para serem vividos e compartilhados em sala de aula, não só na educação infantil, como ─ principalmente ─ no ensino fundamental.

Afinal, se a vida urbana está retirando, cada vez mais, das crianças e jovens o corpo em movimento, a escola, de alguma maneira, deveria repor!


sexta-feira, 17 de junho de 2016

Dança: manifestação cultural e expressão do corpo e das sensações emocionais

Uma escola integral e integrada deve ter a preocupação e ações com o todo. Para mim, isso significa uma educação voltada para o corpo e a mente. Dançar é uma das maneiras de ensinar, na prática, a expressão do corpo humano em movimento e no ambiente. A dança disciplina o corpo, os pensamentos, sentimentos e ações. Ela é mais uma linguagem a ser trabalhada na escola e não fora dela, porque faz parte das manifestações artísticas de um povo. Ela auxilia na sociabilidade, na quebra da timidez, dentre outros tantos benefícios!

Não estou aqui dizendo que a escola deva fazer danças para que os alunos se  apresentem em alguma data especial; é mais do que isto! É levar a criança a adquirir consciência corporal entendendo sua relação com o espaço e com a natureza.

A dança é uma manifestação artística que integra corpo e mente de forma indissociável, já que somos um todo vivendo conosco e com os outros interagindo num espaço chamado planeta Terra. A criança que vive de forma muito sedentária, com o uso excessivo de tablet,  computador e celular, pode vir a apresentar encurtamento de alguns músculos por volta dos 10 anos de idade, além de limitações oftalmológicas. Isso pode ocorrer pelo fato de não realizar os movimentos micro e macro como a natureza proporciona que façamos. Esta tensão muscular inadequada pode provocar uma postura incorreta, além do agravo em visão, audição e o estado de concentração. Passos de dança e alongamentos contribuem para evitar este tipo de tensão.

Brincadeiras com danças podem ser ensinadas desde bem cedo porque até as crianças podem nos ajudar a montar coreografias a partir de seus próprios gestos e movimentos. Para que eles se interessem pela dança é preciso que se leve em consideração o repertório que eles possuem e, aos poucos, ir inserindo movimentos que eles desconhecem ou pouco fazem.

Um dos princípios da educação infantil é que a criança cuide de seu próprio corpo e, para isto, se faz necessário que ela o conheça e reconheça. Muitas vezes conversando com professoras de educação infantil elas me dizem que, para elas, cuidar do próprio corpo é ensinar as crianças a se alimentarem sozinhas (autonomia), a lavarem as mãos antes das refeições, a escovarem os dentes depois do lanche, a se limparem sozinhas no banheiro, essas coisas dos hábitos e atitudes da vida diária. No meu conceito, cuidar do próprio corpo vai muito além destas atividades de rotina na educação infantil porque, ao fazer exercícios que sejam de dança ela aprenderá, de forma lúdica e espontânea, a ouvir e acompanhar ritmos com expressões e movimentos dos membros  e do corpo como um todo. Isso é possibilitar um caminho para o conhecimento; primeiramente somos e sentimos corpo e depois começamos a perceber que temos raciocínio para pensar e planejar nossas ações. Cada coisa a seu tempo!


A dança, além de ser um exercício de reconhecimento dos limites do corpo, também proporciona uma manifestação artística/cultural que precisa ser ensinada e vivenciada para fazer parte do currículo como um todo. Somos um todo integrado dentro de um espaço e, mais do que isto, vivemos dentro de um planeta que possui vida. Dança é vida, é arte, e expressão! É ser e estar neste mundo. Dança também é a sustentabilidade da vida de novas gerações.

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Restaurante ( e não Cantina) na escola é bom?

Toda escola deveria ter uma espécie de restaurante para que as crianças pudessem se servir desde os quatro anos de idade, para aprenderem o equilíbrio e a ponderação para colocar o alimento no prato e, além disto, aprender a questão da quantidade e da alimentação saudável.
É obvio que o cardápio deste restaurante deverá ser muito bem balanceado por uma nutricionista e, mais do que isto, deverá ter dinâmicas para que as crianças aprendam a colocar no prato e a comer cinco cores de alimentos, além de serem incentivadas a experimentarem novos alimentos sempre.

Existe melhor forma de aprender a se alimentar bem do que de maneira lúdica e junto com os seus amigos?

Quando o lanche vem pronto de casa, ou quando a escola não propicia variedades, as crianças ficam sempre saboreando dos mesmos alimentos, não aprendendo a comer de forma saudável e equilibrada. Nem todas as crianças possuem a oportunidade em casa de experimentar novos alimentos por conta da dinâmica familiar; assim sendo, uma escola que se preocupa com a formação e o desenvolvimento de um ser integral também precisa pensar na alimentação.

 Além da preocupação nutricional também existe a preocupação de aprender a se socializar em ambientes que eles frequentam fora da escola, como restaurantes em shoppings. Se na escola eles possuem um lugar próprio para isto, com utensílios pensados para sua altura, eles começam a aprender a se servir, a não desperdiçar, a se alimentar de forma correta sem distrações, a socializar na hora da refeição, a mastigar corretamente os alimentos, enfim, aprenderão brincando.

Outro aspecto importante é que os adultos que trabalham na escola também se alimentem com eles, pois aprendemos pelas experiências e imitando uns aos outros. Educação alimentar é algo primordial para uma vida saudável. Somos o produto daquilo que comemos. Saúde é sinônimo de vida! Comer corretamente também é um aprendizado, e a escola precisa ter esta responsabilidade e este cuidado. Na minha visão de educadora, não adianta fazer atividades de nutrição na escola como a pirâmide de alimentos e não oferecer às crianças a vivência disto no cotidiano. Geralmente os alunos aprendem a nutrição no papel e talvez nunca tenham a experiência de experimentar um prato com alimentos equilibrados pela pirâmide alimentar e de forma colorida. Como será que eles poderão carregar essas informações pela vida toda se não houver a prática e a experiência diária permeando todo esse conhecimento?

Para mim, a escola deve ensinar a teoria sobre os alimentos, mas também apresentar propostas práticas todos os dias para que isto vire consciência e hábito alimentar saudável. Com a saúde do nosso corpo não se brinca; ele é resultado de nossas escolhas alimentares, de nossas vivências motoras e emocionais. Uma escola integral e integrada com a natureza também se preocupa com a alimentação das crianças, jovens e adultos que nela estejam inseridos.



terça-feira, 14 de junho de 2016

Escola integrada, sustentável e solidária

Há alguns anos pesquiso qual é a escola ideal, como seria esta escola?  Como seria sua estrutura? Como seriam trabalhados os conteúdos? Como seriam as aulas? Como se daria o relacionamento entre professores e alunos? Enfim, todas essas questões vêm permeando os meus pensamentos há algum tempo.

Cheguei a alguns caminhos que considero importantes e que divido com vocês agora neste texto. Uma escola ideal não é fácil de se conseguir porque os anseios são diferentes e a perfeição não existe; porém, é preciso pensar no ser humano atual para ver as necessidades de uma educação realmente transformadora, não somente com relação a conteúdos, mas também com valores morais, éticos, políticos, econômicos, ambientais e sociais, propondo um ser humano íntegro e saudável, quer seja em seu aspecto físico e emocional, quer seja na relação com o outro, com a sociedade, a vida e o planeta. Uma escola que atendesse realmente à sociedade em que vivemos e que não ficasse apenas no campo da informação, mas que realmente proporcionasse conhecimento. Uma aprendizagem pela experiência para a vida!

Pensando, refletindo, analisando e repensando, chego à conclusão que devido ao mundo atual devemos voltar esta escola para um ambiente natural, ou seja, uma escola fazenda. Esta instituição deverá resgatar princípios e valores básicos de sobrevivência humana, tanto para uma geração atual, como para as próximas gerações. É necessário educar mente e corpo de forma integrada junto à natureza. Educar valores do plantar e do colher em todos os sentidos, quer sejam na horta e no pomar, quer sejam na vida. Educar para saber fazer escolhas, educar para o empreendedorismo desde pequenos.

Como seria esta escola? Uma fazenda com horta, pomar, animais (cavalos, pôneis, vacas, galinhas, porcos, etc), quadras de esporte, parques, jardins sensoriais, restaurante, piscinas, anfiteatro, sala de música, de dança, de meditação, área de saúde (médico, psicóloga, terapeuta ocupacional, fonoaudióloga, dentista), atelier, brinquedoteca sustentável, oficinas de mecânica, elétrica, marcenaria e de gastronomia infantil; pequeno armazém para venda de produtos produzidos pelas crianças (empreendedorismo), pistas para aprender a andar em ciclovias, semáforos, faixas de pedestre (mobilidade urbana), acessibilidade para aprender a conviver de forma cidadã, respeitando a diversidade humana. Enfim, uma escola que alinhasse cognição, corpo, mente, artes, cultura, empreendedorismo, exercício pleno da cidadania de forma sustentável, ou seja, que aprendesse de fato a reciclar, reutilizar e reduzir, pensando e agindo de forma a preservar a vida em todos os seus aspectos.


É esta estrutura física que acredito ser importante, porém, ela não é suficiente para que possamos garantir esta nova educação. É preciso pessoas que comunguem com as mesmas ideias e os mesmos ideais; profissionais que realmente saibam trabalhar de forma a promover uma mudança também em si, praticando o autoconhecimento; além disto, pessoas que realmente queiram um mundo melhor. Um mundo que não seja utópico, presente apenas nos almanaques de boa conduta, mas um mundo real com problemas que precisam ser resolvidos, propondo soluções práticas e de convivência harmônica. Acredito que o mais difícil sejam os seres humanos, pois, prédios são fáceis de serem construídos! Mas vestir a camisa de construir uma educação que verdadeiramente trabalhe pelo desenvolvimento de um ser humano, que verdadeiramente ofereça experiências para vivenciar a natureza, a saúde física, cognitiva e emocional, a diversidade, a cidadania, o respeito a si e ao outro... enfim, uma equipe dentro da escola que possa trabalhar consigo, primeiramente, para poder se inserir em uma educação que alavanque valores que sejam além do TER, e que passem a viver o SER, o SER HUMANO.

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Equipe multidisciplinar na escola: sua importância para o desenvolvimento saudável da criança

Em minha concepção de educação, uma escola deverá ter uma área de saúde com médico, enfermeira, fonoaudióloga, psicóloga e terapeuta ocupacional, além de dentista. Não quero que a escola faça e cumpra todo o papel da área médica, não é isto. Mas para a saúde física e mental dos alunos, a escola deveria ter, além de excelentes profissionais da área da educação, também a integração e o auxílio de profissionais da saúde como forma de prevenção e orientação.

Um psicólogo não vai fazer terapias individuais; não é isto! Mas vai auxiliar tanto os profissionais quanto as crianças na resolução de problemas emocionais; poderá oferecer elementos para o professor de sala observar uma criança quanto ao seu comportamento e orientá-lo em relação aos procedimentos que poderão ser realizados diante das dificuldades naturais que surgem ao longo do caminho da aprendizagem. Isso significa trabalhar em equipe multidisciplinar para que o pedagogo possa lidar com o aluno sob o viés de compreender melhor como se dá o processo emocional diante de situações de cognição, reflexão, análise e síntese.

O médico pediatra, por sua vez, irá verificar a saúde física e os aspectos relativos à nutrição: possíveis alergias, viroses ou outro tipo de problemas de saúde, muitas vezes trazidos por situações climáticas e ambientais, além de aspectos emocionais, claro, que compartilharia com o profissional de psicologia. A enfermeira, por sua vez, deveria estar presente para o caso de haver algum tipo de queda ou machucado ─ extremamente comuns nas escolas ─ ou mesmo para o fato de alguma criança precisar tomar uma medicação dentro do período escolar, verificando as indicações prescritas pelo receituário e bula anexados ao caderno, pela família, ou mesmo indicadas pelo médico, caso isso venha a ocorrer; temos que nos lembrar de que o professor é proibido por lei de realizar esta ação, devido aos cuidados necessários que este procedimento precisa ter.

A presença do fonoaudiólogo poderá auxiliar os profissionais da educação no inicio da linguagem da criança, e ainda durante todo o desenvolvimento da comunicação, verificando se apresentam alguma dificuldade na fala ou na comunicação como um todo. Além disto, ele poderá propor exercícios que trabalhem a expressão oral, as entonações e o correto uso da voz, sejam estes exercícios destinados aos alunos, sejam destinados aos professores que têm na voz a sua efetiva ferramenta de trabalho. Junto a este profissional, o dentista acompanhará os processos de mastigação, troca de dentes e demais aspectos da saúde relacionados à região orofacial.

Quanto ao terapeuta ocupacional, este profissional auxiliará com atividades que visem desenvolver de maneira adequada a coordenação motora fina ─ fundamental para o processo da leitura e escrita ─ seja de maneira preventiva ou como necessidade da faixa escolar a partir dos seis anos. Com relação à coordenação motora ampla, o profissional de Educação Física deverá estar presente diariamente propondo atividades em espaço próprio destas aulas, ou orientações ao pedagogo sobre o corpo do educando em sala de aula que, infelizmente dentro da vida moderna, está cada vez mais passivo.


Vemos, desta forma, que todos esses profissionais mencionados acima são importantes para o desenvolvimento integral e integrado de uma criança. O trabalho educacional só se completa se outras áreas estiverem interligadas e ativas dentro da escola; temos que nos lembrar, sempre, que a criança tem um corpo físico com mente e emoção associadas, e que quando estes aspectos não estão em harmonia podem apresentar problemas que interferem na aprendizagem. Somos um todo unido e não dissociado. Somos um todo que para ter saúde é necessário estar em sintonia e equilíbrio. Os profissionais em conexão com este todo poderão propiciar aos alunos uma vida saudável e um aprendizado real e verdadeiro. Por isso, a equipe multidisciplinar tem um papel fundamental, e a escola que tem estes profissionais integrados com a educação é um sonho! Trata-se de algo fundamental para a educação do século XXI e em cujo Projeto tenho trabalhado com muita atenção e dedicação. Pretendo que ele se transforme em realidade brevemente, dentro da Escola Sustentável que estou elaborando junto a uma equipe multidisciplinar. É um Projeto que visa à construção e ao desenvolvimento de uma Educação melhor e com pessoas saudáveis, futuros cidadãos do nosso país!   

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Uma educação voltada para um ser integral e integrado

Em neurociências cada cérebro é único; não existem dois cérebros iguais e nenhum é perfeito. Isto nos confere um modo único e ímpar de ver o mundo. Portanto, a educação integral deve respeitar o ritmo e a cultura de cada criança. Difícil é não homogeneizar as crianças em uma sociedade que quer sempre que todos sejam iguais, quando a neurociência já nos define como seres únicos. Assim, uma educação integral também deveria ser única; porém, como ter esta perspectiva se o próprio Ministério de Educação propõe Currículos de bases comuns para todas as crianças, do ensino fundamental e médio ao superior? Como respeitar as individualidades e diferenças quando queremos que todos estudem as disciplinas e cargas horárias definidas por um órgão que ─ na maioria dos casos ─ tem em seu poder administrativo pessoas que não são da área da educação, ou aquelas que, se desta área são, há muitos anos estão fora da sala de aula, desconhecendo na prática cotidiana as mudanças que ocorrem na sociedade e que se manifestam no educando que ali na escola está?

Defendo que devemos rever esta posição, considerando que nosso país é amplo e diversificado, seja em cultura, seja pelas necessidades de cada região. Assim sendo, poderíamos ter um Currículo mais livre para que cada professor pudesse perceber as dificuldades e facilidades que cada criança possui, podendo planejar de acordo com as facilidades de cada um, em comum acordo com a coordenação e direção da escola e das Secretarias de Educação Municipais e Estaduais. Atuaríamos em prol de uma educação integral verdadeiramente falando, de acordo com as necessidades de cada indivíduo, escola ou município, e não uma educação para todos igualmente. Se a neurociências nos diz, em suas pesquisas, que somos únicos, a educação deveria acolher este conceito e respeitar, em seu Currículo, esse caminho. Para isto é necessário uma reforma em todos os aspectos da educação brasileira, desde a educação infantil até o ensino superior.


 Educação integral visa atividades motoras finas e amplas, intercaladas com atividades cognitivas, culturais e artísticas, levando em consideração todo o aspecto emocional dos educandos. Nossa maneira de pensar, sentir e agir em nosso meio é consequência do que aprendemos com o mundo a nossa volta. Educação integral e integrada visa uma educação diferenciada da atual, onde atividades de lazer, de entretenimento cultural, de contato com a natureza e atividades esportivas estejam integradas a atividades cognitivas. Não deixaremos de estudar português ou matemática, não é isto, mas estudaremos de outra forma mais ampla, com a experiência do dia a dia permeando os aspectos nos quais a criança esteja inserida.  Assim, observar a natureza, procurar respeitá-la quando houver necessidade de agir, conhecer as leis da física e da química que regem o contexto da nossa sociedade, isto significa proporcionar uma educação integral, integrada ao indivíduo, à região e às necessidades sociais. Não pensamos em dividir o país, mas em respeitar e aprofundar o que a comunidade local necessita enquanto cidadania, tecnologia e campos de atuação.

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Consciência emocional: importância para a saúde mental e física

Sabermos o que pensamos, sentimos e como agimos, segundo nossos pensamentos, nos faz cientes de nossos comportamentos; no entanto, isto não se aprende sozinho, ou seja, nem sempre conseguimos ter consciência de nossos atos sozinhos. Precisamos de um outro para que nos sirva de espelho, sempre. Daí que o processo da interação social é fundamental para o desenvolvimento de um indivíduo, sendo que um profissional da área da saúde, mais especificamente da psicologia, possa acompanhar esse processo de socialização e desenvolvimento das crianças e dos jovens. 

Toda escola deveria ter este profissional acompanhando a saúde socioemocional dos alunos desde a mais tenra idade; temos visto crianças sofrendo por problemas emocionais devido a vários fatores, desde pequeninas, e o professor sozinho não está preparado para lidar com todas as situações que têm se apresentado nas escolas.  Alguns pais reforçam comportamentos agressivos das crianças em suas famílias, seja pela maneira como lidam com elas mesmas, seja pela forma como tratam os outros que habitam o mesmo espaço; assim, a criança vai aprendendo pelo exemplo (com aquilo que vê), ou pela experiência (com aquilo que recebe).  Isso está ficando cada vez mais claro, cada vez mais evidenciado, nas relações que se estabelecem entre as crianças dentro do meio onde convivem.

Alguns exemplos que podem ser citados mais diretamente ligados a atitudes de não solidariedade é dizer ao filho para não dar parte de seu lanche (geralmente guloseimas) ao colega, tendo em vista que seus pais compram alimentos para o lanche de seu filho. Outra atitude reforçada pelos pais é a de não emprestar nenhum tipo de material escolar para ninguém, e a justificativa é a mesma: que cada pai compre para o seu filho o que ele quiser, e que ensine seu filho a não ficar “olhando torto” para as coisas dos outros! Esses são exemplos de atitudes egoístas reforçadas de maneira ignorante, retrógrada, incentivando um crescimento e desenvolvimento sem solidariedade, sem o compartilhamento social e fraterno de que estamos todos necessitados, rumo a uma sociedade mais humana, solidária e desenvolvida. E depois, quando chegam na vida adulta e demonstram atitudes aberrantes, pode-se perceber que nem mesmo eles têm consciência do que fazem, pois ninguém nunca trabalhou esse aspecto; ao contrário: somente estimulou de maneira a torná-lo mais egoísta e agressivo.


A presença de um profissional da área da psicologia, dentro de uma escola, pode auxiliar os pré-adolescentes a lidar com as mudanças de corpo dessa fase, já que o trânsito ─ de um período para o outro ─ mexe com o físico, o emocional e, consequentemente, com o cognitivo. De nossa parte, como adultos já “bem formados”, acabamos por crucificar os adolescentes diante da forma como lidam com a vida, as companhias, os estudos, o tipo de música, a falta de interesse pelas coisas de nossa sociedade, enfim, usamos o apelido “aborrecentes”, mas não entendemos ─ e nem eles mesmos entendem ─ que mudanças sérias estão ocorrendo em todos os sentidos, em seu corpo, sua mente e nas relações sociais também! Novas conexões cerebrais estão estabelecidas, nova maneira de pensar, sentir e agir que precisam ser revistas e reorganizadas. No entanto, quem os ajuda neste momento? Só são encaminhados ao profissional de saúde física ou mental quando algo de muito destoante passe a acontecer... E isso é muito sério: já imaginaram como é alguém precisar entender o que se passa consigo e não poder contar a ninguém, nem em sua família e nem na escola? As crianças e os adolescentes se sentem perdidos neste período e precisam de ajuda para se autoafirmar como seres humanos e sociais, para poderem obter sucesso e boa saúde mental. Crianças inseguras e adolescentes sem rumo são comuns em nossa sociedade atual; eles se encontram desamparados emocionalmente para lidar com situações de conflito interno. Se nas famílias este apoio não vem, é a escola que deverá proporcionar um profissional especializado. Educação e saúde devem andar juntas para que as crianças e os jovens possam se desenvolver de forma integral e integrada. Somente um espaço onde existam estes profissionais adequados, cuidando e orientando pais e professores, além das próprias crianças, para que todos possam conhecer e entender o que se passa consigo e com os outros ao seu redor, é o ideal. Somos um todo interligado e, para que tudo esteja em harmonia, é preciso que se entenda quem somos como consciência corporal e mental Não existe corpo separado de mente. Somos um todo integral e integrado, determinado e determinante de nossos pensamentos, sentimentos e emoções, responsáveis por nossos atos. Somos livres, porém, quanto mais liberdade se têm, mais responsáveis somos! E isto faz parte do desenvolvimento socioemocional. É necessário que a educação comece a dar mais importância ─ nas escolas ─ para este fator, se quisermos ter uma sociedade com pessoas mais equilibradas. É uma nova maneira de ver a educação com um ser humano total. Não temos, ainda, uma escola que respeite e que saiba lidar com todos os aspectos do desenvolvimento humano. Mas está na hora de começar!

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Cultura integrada à natureza

Quando penso em uma escola integrada com a natureza, em uma fazenda com árvores e animais, não penso em uma escola desconectada do mundo. Somos seres culturais e históricos, somos o produto de antigas civilizações. Assim, precisamos de música, teatro, filmes, literatura, poesia, esculturas, pinturas, arte em geral para vivermos de forma saudável.

A natureza nos proporciona sons, cheiros, sensações com o vento, o frio e a chuva, com o sol, sabores e aromas, texturas e tonalidades que são únicas e que podem servir de inspiração para a representação de diversas áreas culturais. Vivemos hoje em superfícies lisas, recobertas por cimento, borracha, impermeabilizantes... usamos celulares, tablets e computadores para nos comunicarmos e para nos divertirmos, somos estimulados a nos conectarmos com o mundo e com as pessoas de maneira virtual e asséptica. Então, conectar-se com a natureza passou a significar uma necessidade de saúde e de bom desenvolvimento, acessando a fonte primária e primordial de experimentações que são únicas para cada ser humano.

Desde criança é necessário ativar regiões do cérebro que só serão devidamente acessadas se forem propiciados estímulos e ingredientes diferentes, sendo que a natureza nos dá esta oportunidade. Andar descalço na terra, na grama, nas pedras é só um exemplo importante para sermos pessoas mais saudáveis, pois cada lugar nos provoca sensações diferentes; cada superfície que tocamos ativa nervuras e musculaturas que se reportam ao sistema nervoso central e que este, por sua vez, devolve ao sistema nervoso periférico e ao nosso sistema sensorial como forma de acordar estruturas que não seriam utilizadas por aquelas crianças que só andam de meias e calçados sobre superfícies impermeabilizadas e lisas.  

Vocês podem estar pensando que pisar no chão de terra, areia, pedra, grama e poça d’água... é expor a criança ao sujo e ao frio. Ora, minha gente: sujeira se lava, toma-se banho e lá estão os pés recebendo outro tipo de estímulo, um pouco mais forte que o usual, ou seja, hora da bucha, da escova, da esponja mais áspera... estímulos que irão proporcionar mais experimentações e sensações! Se isso não for feito enquanto oferta e contato com texturas, temperaturas e movimentos de forma adequada e equilibrada em idades específicas, essas atividades que estimulam as áreas mencionadas acima terão o que se chama de lei do uso e do desuso: o que não se usa, atrofia, perde-se!

Somente uma escola sustentável em meio à natureza poderá propiciar estas experiências com os sabores, cheiros, sons, com diversas imagens e com sensações de tato nas mãos e pés.  Nossas escolas atuais se preocupam em propiciar atividades motoras finas ─ precocemente para as mãos ─ cujo objetivo é fazer com que as crianças segurem no lápis e escrevam de maneira correta; porém, esquecem-se de que somos um corpo integrado! Nas escolas de Educação Infantil e principalmente no Ensino Fundamental é muito raro vermos atividades voltadas para os pés, para o equilíbrio, a pele, os sentidos. A maior parte das escolas da atualidade nega o corpo do educando preocupando-se somente com o intelecto. Então, vamos recapitular? Não somos apenas intelecto, raciocínio e razão. Aliás, para que nosso intelecto funcione adequadamente são necessários estímulos provenientes de diferentes áreas e regiões, pois cada uma delas se integra à outra em amplas redes neurais, sendo que o todo corresponde à função solicitada! Por isso, é importante que como pais e educadores sempre nos lembremos de propiciar atividades culturais, esportivas, espontâneas e cognitivas, regadas de muita afetividade, respeito e consideração para que as crianças desenvolvam, de forma integral e integrada, o que a vida que lhes pede sempre. Isto não significa prepará-las para uma nova etapa da vida, mas sim educá-las para viver a cada dia como se este fosse único e especial, com saúde em todos os aspectos.

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Atividades motoras amplas e finas: aspectos da motricidade

Toda escola se preocupa em trabalhar o corpo da criança; geralmente esta tarefa está relacionada à Educação Física que proporciona exercícios de esportes das mais variadas modalidades. Pois bem, na minha concepção de escola, esta motricidade vai além de somente exercícios físicos e/ou esportes para pensar no desenvolvimento de um indivíduo saudável.  

A preocupação com o corpo é algo que se pensa em escolas desde tempos bem antigos. No entanto, minha concepção é um pouco diferente porque penso que a motricidade deve estar relacionada com o corpo integral, tendo em vista que o cérebro possui regiões que compõem áreas motoras as quais comandam todos os movimentos corporais de um ser humano; assim sendo, em minha observação vejo que a forma como a motricidade está sendo oferecida em nossas escolas propicia certa desconexão diante dessa integridade. Por que?  Vamos lá: a escola se preocupa muito com a parte cognitiva, esquecendo-se ou deixando para segundo plano o corpo do educando, principalmente do jovem a partir dos oito, dez anos, quando o processo escolar privilegia o aprendizado que se manifesta pela cognição. Como o cérebro trabalha em conjunto, cada atividade proposta pela escola não pode dar mais valor à cognição do que à parte motora ou emocional. Basta olharmos para o currículo aplicado nas escolas do Brasil para verificarmos que há várias atividades ─ diárias ─ de Língua Portuguesa, Matemática, Historia, Geografia, Artes e apenas duas vezes por semana Educação Física. Quando distribuímos o currículo desta forma damos mais importância a uma determinada disciplina em detrimento de outra.

O mais correto, em minha visão de educadora, é o equilíbrio em todos os sentidos. Por exemplo, distribuir de forma igualitária cognição, motricidade e emoção em diferentes modalidades em sala de aula e em momentos extra-classe; e quando penso em motricidade, não me refiro apenas a atividades esportivas, mas  também  a exercícios respiratórios para oxigenar melhor todo o organismo. E falar sobre isso, dessa maneira, é esperar por críticas apontando que as nossas escolas não têm tempo para ensinar a respirar! E infelizmente, anos depois, na vida adulta, quando a pessoa estiver diante de um forte stress emocional, próxima a um ataque cardíaco, receberá como prescrição médico-terapêutica, a necessidade de aprender a respirar de forma correta para oxigenar o organismo, para manter o ritmo circulatório e para garantir melhor qualidade de vida em seu dia a dia. Nem sempre na vida adulta todos conseguem recuperar o que é inato lá na infância: respirar de forma correta!


Na escola sustentável ─ cujo significado é VIDA, em todos os seus aspectos ─ as atividades motoras são integrais e visam o corpo em seu todo, dos pés à cabeça, do movimento amplo ao movimento fino, por dentro e por fora. Para essa escola, a motricidade prevê um espaço composto por quadras, piscina, pistas de atletismo, salas de dança, de artes marciais, de exercícios circenses, e também ─ na medida do possível ─ trilhas dentro da natureza. Assim sendo, desde atividades olímpicas a jogos esportivos e movimentos de dança vivencia-se, também, o andar em corda bamba e os malabarismos, cujas atividades exigem atenção e equilíbrio físico e emocional. Precisamos nos lembrar que na vida adulta, quantas e quantas vezes nos vemos diante de cordas bambas... e que se proporcionarmos aos corpos dos educandos essas atividades diárias, desde pequenos, certamente teremos adultos com mais facilidade para superar os obstáculos que irão exigir equilíbrio e disposição diante das cordas bambas da vida! Se a vida é cíclica e feita de altos e baixos, pensemos que a espiral sempre se faz voltar ao ponto de partida.

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Como trabalhar o desenvolvimento socioemocional com crianças de zero a 14 anos?

As escolas precisam aprender que não são somente os conteúdos de Língua Portuguesa ou de Matemática com os quais elas devem se preocupar para planejar suas atividades, mas que também devem pensar em como planejar o desenvolvimento dos aspectos socioemocionais de todos os seus alunos. Não se deve ignorar este fator, principalmente nos dias atuais, nos quais vemos muitos adultos destroçados porque não sabem como lidar com suas emoções e com os sentimentos em sua vida diária. Sentimentos como cooperação, solidariedade, empatia, senso crítico, curiosidade, imaginação, precisam ser ensinados ─ na verdade, precisam ser vivenciados ─ não nascemos sabendo como lidar com eles; é preciso que sejam incentivados nas escolas para que no processo do despertar eles possam ser trabalhados dentro de cada criança.

Não é só a cognição que deve fazer parte do período em que as crianças e jovens estão dentro da escola; é preciso lembrar que nesse tempo há um corpo presente permeado por todas as características e necessidades que lhe são próprias e compatíveis com cada idade. Não podemos nos esquecer da motricidade, dos aspectos lúdicos, da comunicação, da socialização e da afetividade, para mencionar apenas alguns. Precisamos nos lembrar que todas essas necessidades devem estar integradas e, para que isto aconteça, é preciso que o educador se preocupe mais com essa visão ampla, reflita mais sobre como pode trabalhar e desenvolver suas aulas... enfim, é preciso que o educador sinta que algo precisa ser mudado em relação à estrutura e à forma das aulas, facilitando o trabalho em grupo, discutindo textos em rodas de conversa, socializando o que cada um tem para falar, possibilitando que haja maior desenvolvimento e percepção sobre o tempo que cada um tem para falar, para ouvir, para compartilhar...  Procurar despertar o “se colocar no lugar do outro” experienciando, e compreendendo o por quê de cada posição, de cada atitude e conduta... Acredito que isso seja o início de um processo de aprender a trabalhar com o respeito ao outro.

Aulas específicas com profissionais da área da psicologia também precisam ser pensadas para que as crianças e os adolescentes possam entender sentimentos e emoções tais como: alegria, tristeza, perda, culpa, medo. Isto é trabalhar o desenvolvimento socioemocional, ou seja, cada um começar a compreender o que sente, como sente e porque sente de determinada maneira as coisas que acontecem ao seu redor. E, ao mesmo tempo, precisam aprender que os problemas dos outros não devem atingir a sua meta que é o seu aprendizado, o seu desenvolvimento escolar, por exemplo. Saber que a vida é cheia de conflitos, mas que temos que aprender a ter resiliência para superar traumas e seguir em frente.


Toda escola deveria ter uma área psicológica para dar esse suporte às crianças e adolescentes para que eles possam entender a si mesmos e aos outros de maneira compreensiva, podendo aprender sobre os sentimentos, por exemplo, a partir de personagens pela literatura, pelo teatro, pelo cinema e depois, tudo compartilhado, refletido, discutido, vivenciado sob a égide da psicologia e das relações humanas! É preciso que a escola amplie esse campo e comece a considerar os alunos muito mais como pessoas, como seres humanos com falhas e acertos, com defeitos e qualidades, sentimentos e emoções. Penso em uma escola que alie a psicologia ao seu dia a dia e, para isto, é necessário um profissional que saiba e queira ajudar alunos, professores e funcionários a entenderem o que passa consigo e com o outro, vencendo seus conflitos internos, em busca de uma vida mais saudável em todos os sentidos.