domingo, 29 de novembro de 2015

Mensagem final do ano de 2016

Este é último texto que publicarei no Blog este ano, mas servirá de reflexão sobre 2015. Passamos por situações difíceis na política, na economia e na área educacional neste nosso país. Estamos em plena crise, no Brasil e no Mundo. Porém, para algumas pessoas, como eu, isto não foi motivo para me desmotivar ou parar, pelo contrário.

No primeiro semestre construí a segunda Brinquedoteca Sustentável; foi na Faculdade de Hortolândia na qual sou coordenadora do curso de Pedagogia, e este projeto se concretizou graças à ajuda de todos (direção, professores, alunos, funcionários da referida Faculdade e também pessoas da comunidade local, e até mesmo de Campinas). Tenho que agradecer a todos pelo apoio nesse projeto. Ainda nesse primeiro semestre recebi mais um convite para ser coordenadora também dos cursos de Pedagogia e Letras da Faculdade Fleming em Campinas (tanto a Faculdade de Hortolândia, quanto a Fleming, são do Grupo UNIESP), desafio aceito. Porém, não imaginava o tamanho do obstáculo a ser vencido; mas tenho comigo o lema de que os momentos de desafios e de dificuldades são os que mais proporcionam aprendizado. Assim, chego ao mês de dezembro com a certeza da missão cumprida.

No segundo semestre deste ano de 2015 fui realizar um sonho: conhecer Portugal e seu sistema educacional. Fazia muito tempo que eu aguardava por essa oportunidade; não foi nada fácil conciliar trabalho, horários e também a parte financeira, mas com o objetivo de ampliar mais meu conhecimento no campo educacional, apertei o cinto e consegui me inscrever junto a um grupo de educadores brasileiros que estavam com o mesmo objetivo.

Visitei o Agrupamento Eça de Queiroz, em Lisboa, e a famosa Escola da Ponte. Saber um pouco mais sobre outra cultura e verificar, na prática, como acontece a educação naquele país, do infantil ao ensino superior (graduação e pós-graduação) foi muito importante para eu rever conceitos aqui no Brasil. Afinal de contas, só conseguimos realizar o processo reflexivo quando temos ao menos dois objetos ─ ou momentos, circunstâncias, métodos, etc ─ para realizar a comparação e elaborar a reflexão e a síntese.

Enfim, embora a vida de professor aqui no Brasil não seja fácil, consegui superar inúmeros obstáculos e realizar um grande sonho. Esperar passar a crise para crescer é errado, pois quem cresce durante a crise vai perceber que, depois que ela passa, a pessoa está mais pronta, mais experiente e acaba saindo na frente dos demais concorrentes. Pensem nisto! Em vez de ficarem alimentando a crise, olhando para as coisas erradas e para tudo o que falta, busquem alternativas, procurem se especializar, ampliar o conhecimento e sigam em frente! O segredo do sucesso se chama trabalho, e não, desânimo!


O blog tira férias e volta em fevereiro de 2016.  Aproveitem, revejam conceitos, releiam os textos que mais lhes chamaram a atenção, busquem refletir sobre a profissão professor e a missão de ser pai e mãe. Boas Festas!  Desejo um excelente final de ano para todos. Sejam felizes sempre, e busquem a felicidade no seu interior e em suas realizações. VIVA 2016!

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Portugal x Brasil: diferenças culturais

Ouvi do Professor Antonio Teodoro, na Universidade Lusófona, em Lisboa, que não dá para comparar o incomparável, quando se trata de Portugal e Brasil, com relação ao sistema educacional. Ele ainda brincou dizendo: ”são anos de história”!
Realmente o sistema educacional português está todo voltado para atender às necessidades econômicas e culturais daquele país. Desde a educação infantil, percebemos um cuidado especial para com os pequenos. Existe toda uma infraestrutura física e todo um acompanhamento de profissionais na área da educação e da psicologia para atender às necessidades das crianças, sejam elas com necessidades especiais, ou não. Portugal, hoje, tem 98% das crianças com necessidades especiais inseridas em seu sistema regular público de ensino. Perguntei sobre os outros 2% restantes, e recebi como resposta que se as crianças não estão na escola estão no hospital.  

Não vi pelas ruas, durante o dia, nenhuma criança; elas estavam todas nas escolas. Vocês devem estar pensando, “mas Portugal é um país pequeno comparado ao Brasil!” Sim, realmente é; eles possuem 10 milhões de habitantes; comparado ao Brasil, só a grande São Paulo possui 17 milhões de habitantes.  Não devemos pensar em quantidades, mas sim em qualidade. A cultura é outra, uma cultura europeia. Conversando com as pessoas, percebemos que todos respiram história e arte o tempo todo. Contam sobre os estilos das construções (romanos, góticos, manuelina) vivenciando tudo isto o tempo todo. Aprendem vários idiomas, desde a primeira série até a sexta o inglês, e na sétima em diante a segunda língua (espanhol, francês); e isto se deve por estarem inseridos num continente com vários países com línguas diferentes. Encontramos turistas com várias nacionalidades o tempo todo; Portugal é um país turístico e seus habitantes vivem desta renda; sabem receber e conversar com eles é muito importante.

Eles possuem respeito por sua cultura e tradição, possuem uma noção de pertencimento e orgulho muito grande, diferente do brasileiro que não dá valor ao que é nosso, mas sim ao que vem de fora. Para se ter uma ideia, fomos a um restaurante no qual se canta e toca o fado; enquanto acontece o espetáculo de música, não se come e não se fala, mas simplesmente se aprecia a música e a dança em sinal de respeito.

O que fica para mim, é que precisamos mudar nossa educação com urgência se quisermos um país desenvolvido; Se não, continuaremos sendo a parte pobre do planeta quer seja em riqueza econômica, quer em educação e cultura!



quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Escola colorida: Agrupamento Eça de Queiroz (Lisboa- Portugal)

Na visita feita a Portugal, além da escola da Ponte visitamos um agrupamento de escolas públicas denominadas Eça de Queiroz. São três escolas que fazem parte deste agrupamento. Para entender melhor, são três escolas em locais diferentes, mas todas possuem a mesma direção que coordena este agrupamento, desde a educação infantil até o ensino secundário (Ensino Médio, no Brasil).

Alguns aspectos destas escolas me chamaram a atenção; a estrutura física é maravilhosa em todas as escolas, sendo bem parecidas com as nossas escolas particulares, de qualidade, aqui no Brasil; mas em Portugal essas escolas são públicas, e os pais pagam 80 euros por ano. Outro aspecto a ser considerado é que essas escolas possuem banheiros coloridos, paredes de vidros coloridos, ou seja, a cor está presente em todos os lugares. Visitei alguns banheiros, e pude ver que os azulejos eram coloridos formando desenhos bem alegres entre o vermelho e o laranja. Andando junto com uma das coordenadoras, mencionei este fato dizendo: “a escola é muito colorida!” E ela me respondeu: “as crianças precisam de cores não? O mundo é colorido e nossas escolas também acompanham o mundo”.   

Quando passeio por Campinas vejo escolas sem cores, sem vida. As públicas municipais são brancas e com faixas azuis. Sempre em tons claros. Perto de casa tem uma escola estadual bege. Vocês devem estar pensando, branco azul e bege são cores claras, neutras e são cores. Sim são cores, mas as crianças precisam mais do que isto! As escolas em Portugal, as quais visitei, notei que as cores vibrantes fazem parte de paredes, móveis, azulejos, armários. Tudo é muito vibrante e cheio de vida!

Assim deveriam ser nossas escolas públicas aqui no Brasil: cheias de vida em todos os sentidos, e não somente nas pessoas. As cores fazem parte de nossas vidas e nos alegram, pois transmitem vibrações. Acho que deveríamos ─ não copiar ─ mas repensar as nossas paredes e mobiliários dentro de nossas escolas públicas aqui no Brasil!

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Formação de professores em Portugal e atuação profissional

Em minha visita a Portugal me deparei com várias situações que me deixaram encantada: uma delas se relaciona com a questão da formação de professores em Portugal. Para ser professor de educação infantil, em Portugal, é necessário fazer o curso de Licenciatura, mais o Mestrado em Educação, ou seja, a licenciatura que corresponde aqui no Brasil ao curso de Pedagogia dá direito de atuar, lá em Portugal, como técnico da educação, mas não como professor. Para ser professor é necessário seguir a licenciatura e fazer o strictu senso. 

Vocês devem estar se perguntando, mas qual a diferença? A diferença é total em minha opinião: alguns teóricos falam o tempo todo em professor pesquisador de sua prática, aquele que realiza a pesquisa-ação, mas, para isto, é necessário entender como se faz uma pesquisa e o curso de mestrado é ideal neste tipo de formação “professor pesquisador”.

Nas escolas visitadas em Portugal, tanto em Lisboa como na escola da Ponte, pudemos observar o tempo todo que se fala em investigação como algo natural fazendo parte da rotina da escola. Mas para se ter investigação é necessário saber fazer e, para isto, é preciso de formação. Olha o nível de formação dos professores para se trabalhar com crianças de zero a cinco anos e assim por diante? Perfeito. Como copiar este modelo aqui no Brasil se em alguns lugares os professores não possuem nem formação universitária? Estamos longe desta realidade...


Se quisermos qualidade de ensino, é necessário pensar em qualidade de formação, desde a educação infantil até o ensino superior e em pós graduação. Precisamos pensar num Brasil com educação, de fato, e não com faz de conta. Vivemos numa ilusão... Vivemos num país em que o jeitinho brasileiro dá certo em tudo, será? Estamos longe de ser um país de primeiro mundo com esta educação sem qualidade, e sem a menor preocupação política, econômica e social. Estamos fadados à falência na educação brasileira em todos os sentidos. 

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Escolas públicas em Lisboa (Portugal) e o uso de computadores

Visitamos uma escola pública do Agrupamento Eça de Queiros em Lisboa e as crianças usavam o computador para aprender matemática. Primeiramente preciso mencionar como as crianças adquiriram este computador portátil (laptop). A aquisição deste computador foi realizada segundo um programa do governo: os pais que possuem uma condição de vida melhor pagaram 50 euros, os de classe média 25 e os pais com menor renda não pagaram nada, mas todas as crianças possuem o seu computador portátil. Percebem que todas as classes econômicas estudam juntas sem diferenciação de ensino, perfeito ou justo?

Bem vamos à aula que visitamos: a professora havia projetado na lousa o mesmo exercício que eles possuíam em seus computadores; na mesma sala estavam a professora de matemática, o professor de informática e a professora de sala. As crianças estavam sentadas em duplas e resolviam o problema apresentado pela professora de matemática, conjuntamente, no computador. Os outros dois professores auxiliavam as crianças. Não vimos nenhuma criança na internet fazendo uso inadequado do computador portátil. Não vimos ninguém em outro arquivo; todos faziam as suas tarefas referentes àquele conteúdo.


Preciso fazer dois comentários: mesmo sendo escola pública, os pais adquiriram o computador  ─ não de graça para todos ─, mas de acordo com sua renda econômica, ou seja, não existe abuso de verba pública. Aqui no Brasil, todos esperam tudo do governo, achando que é uma obrigação, um direito, mas se esquecem de seus deveres. Outro comentário é sobre o uso do mesmo: não vi crianças usando de forma inadequada, e sim para a sua aprendizagem. Aqui no Brasil vejo adolescentes e adultos, no ensino superior, usando o telefone celular e o computador de forma inadequada. Fico me indagando sobre o uso destes aparelhos em sala de aula aqui no Brasil: é uma questão de cultura, ou falta de educação e respeito?  

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

O que realmente aprendi com a visita na escola da Ponte (Portugal)?

Esta experiência foi única e inesquecível, um sonho realizado. Muito se fala e se escreve sobre a Ponte, mas estar lá e verificar, na prática, como é que as coisas se dão é muito especial e muito diferente! Não tem nada igual! Quando chegamos, recebemos um crachá do qual eu tirei uma foto, sendo seguro pela minha mão. Esta foto foi a que mais me marcou a viagem inteira. Era como se o sonho estivesse em minhas mãos.

Aprendi que lá não existe uma única teoria na prática; que tudo foi pensando e planejado para melhoria da qualidade de ensino; que todos são responsáveis pela educação daquelas crianças; que pais, professores, funcionários agem em conjunto “para” e “pela“ escola.

Foi uma mudança de mentalidade para conseguir implantar esta nova metodologia. As próprias crianças que nos atenderam, durante a visita, reconhecem que eles são diferentes! Mas, para minha surpresa, acabei descobrindo lá, ao chegar, que a Escola da Ponte ─ famosa no mundo todo com algo pioneiro ─ em seus arredores e para o seu próprio governo, não tem lá essa aprovação toda, principalmente quanto à sua metodologia de ensino. Mais uma vez me deparo, como educadora, que a cultura de um local ainda não está preparada para mudanças educacionais!


Aqui no Brasil não é muito diferente, já que nossa cultura tem a base portuguesa: inovações nem sempre são bem vindas aqui no Brasil, pois é mais fácil conservar e continuar tudo como está. Para melhorar nossa escola pública, aqui no Brasil, precisamos mudar os conceitos econômicos, políticos e sociais. Mudanças que necessitam de todos e não somente de alguns que pensam. Essa mudança precisa vir do seio da sociedade e se estender por ela mesma! Afinal de contas, a sociedade inteira precisa querer! 

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Escola da Ponte (Portugal) e a eleição da assembleia

Na escola da Ponte as crianças possuem uma mesa de Assembleia, que é utilizada quando se necessita realizar alguma eleição, com chapas dos alunos que querem participar. Existe a comissão eleitoral, os regulamentos e as informações fixadas no mural da escola. Uma das atribuições do presidente da assembleia é fazer parte do Conselho da Direção (que é o órgão responsável pela definição das grandes linhas orientadoras da atividade da escola).

Uma das meninas que nos atendeu na visita possui uma chapa e está se candidatando à presidência desta chapa. Ela nos disse que, se vencer, além do currículo também quer colocar em seu plano quinzenal de atividades, reuniões e tarefas administrativas. Como fomos visitar a escola no começo do ano letivo (o ano letivo se iniciou em setembro de 2015) estavam afixadas no vidro da escola as três chapas que concorreriam neste ano para fazer a Assembleia.

Esta é uma maneira de ensinar a democracia, não no papel, mas pela experiência, vivenciando reflexões e tomadas de decisões que envolvem o coletivo da escola. Isto facilita a construção de cidadãos ativos e participativos.  Noções de responsabilidade para consigo e com o outro estão pautadas neste tipo de trabalho, como o próprio site da escola diz: “aprender a ser com os outros”. O sentido crítico aqui está sendo desenvolvido na prática do cotidiano da escola.

Esta escola, além de conteúdos curriculares e uma metodologia diferenciada para aprender os tais conteúdos, também se preocupa em formar cidadãos ─ não em teoria do que seja exercer a cidadania ─ mas no dia a dia, cooperando, criticando, vendo e revendo atitudes, tomando decisões importantes que envolvem toda a comunidade escolar.



No Brasil já vi isto acontecer na cidade das Crianças, em São Bernardo do Campo. Hoje em dia, nem sei se ainda é assim, mas não conheço nenhuma escola pública que faça isto acontecer desde a primeira série do ensino fundamental. Quem sabe um dia chegaremos lá? Somos um país novo, ainda temos muito que aprender em relação a ser cidadão com direitos e deveres, a respeitar o outro e a nós mesmos, enfim, vejo que aqui no Brasil se confunde muito democracia com direitos. Apenas DIREITOS! Erguemos cartazes enormes sobre direitos, mas os deveres acabam sendo esquecidos... 

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Escola da Ponte (Portugal): professor amigo

Perguntamos às crianças como é a relação deles com os professores, e uma menina nos disse de uma forma bastante comovida, que ali “o professor é nosso amigo, posso contar para ele meus problemas, o que está acontecendo comigo sem medo de ser repreendida”. 

Ela ainda continuou: “Converso com eles sobre a minha mudança de outra escola para esta, as coisas que eu sinto... falo sobre o meu corpo estar mudando, os meus medos, a minha vida... Eu faço isso sem me preocupar se eles irão falar com os meus pais, pois isto só acontecerá se eu assim desejar que eles assim o façam; isso só acontecerá com o meu consentimento. Isto me da segurança e fez com que eu desenvolvesse um respeito e uma amizade com eles”.

Pois bem: o grande problema que vejo nesta relação de amizade, aqui no Brasil, é que algumas pessoas confundem o “ser amigo” com o “tudo pode, já que somos amigos”. Por ser seu amigo eu deixo o errado para lá, porque posso perder a amizade e, amigo é amigo.


Então eu percebi que lá, em Portugal, mais especificamente na Escola da Ponte onde pudemos entrar e conhecer o sistema, o método os alunos e os professores, deu para perceber que isso não acontece assim, dessa maneira. Lá, professor amigo é aquele que pode falar “não”, quando as crianças estão erradas. O verdadeiro amigo, em minha opinião, é justamente aquele que diz quando estou errando. Mas existe uma diferença cultural muito grande em relação às emoções e sentimentos. Lá você fala, discute e pronto. Acabou o assunto e já está resolvido. Aqui no Brasil, se você fala um não, muitas vezes um não educativo, a pessoa fica magoada, acha que você a está perseguindo, enfim, existe uma diferença cultural muito grande! Aprendi que nem tudo o que dá certo em uma cultura, pode não dar tão certo em outra! Muitas vezes transportamos conceitos de autores que não são nossos, que não viveram em nossa cultura e nos apoderamos de algo que precisa ser contextualizado na cultura à qual o conceito quer ser aplicado.  Às vezes é como vestir um casaco feito para se usar na neve, em uma praia do nordeste, em pleno verão!

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Escola da Ponte (Portugal): ensinando na prática como subir uma escada

Como na Escola da Ponte o prédio possui dois andares, a educação infantil fica localizada na parte superior do prédio. O grupo de visitantes estava descendo as escadas quando presenciamos uma cena que merece ser contada aqui; eu não sabia, até então, quem estava sentado à beirada da escada, porque até aquele momento não tinham sido apresentados nenhum adulto para nós. Quem nos acompanhava o tempo todo eram as quatro crianças, três meninas e um menino.

 Bem, vamos ao fato: uma mulher adulta estava sentada na ponta da escada e observava a subida dos pequenos; dois garotos estavam subindo correndo.  Ela verbalizou para os meninos:  “desçam e subam novamente, devagar; eu tenho todo o tempo do mundo para esperar vocês subirem devagar”.
Depois ficamos sabendo que aquela pessoa era a diretora da escola. Este fato me chamou atenção por dois motivos: Primeiro porque me surpreendeu ver uma diretora, sem cerimônia, sentada na ponta de uma escada;  geralmente vemos as diretoras em suas salas atrás de uma mesa, e isto quando as encontramos, realmente, dentro das escolas! O segundo fato que me deixou intrigada é que as crianças desceram e subiram novamente, andando devagar, ou seja, eles respeitaram a diretora, sem constrangimentos.


Depois, no almoço, indaguei-a sobre este fato que tinha me chamado a atenção, e ela me falou: “Mas não estou certa?” E eu disse, claro que sim, mas esta atitude de uma diretora não é comum no Brasil; então ela continuou: “Não sou melhor do que ninguém! Sou apenas mais um adulto ali educando os pequenos e eu tenho todo o tempo do mundo para eles!” 

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Escola da Ponte: da Vila das Aves para São Tomé de Negrelos - Santo Tirso

A Escola da Ponte atual não ocupa o mesmo espaço da escola original. A escola original ficava na Vila das Aves, e a atual fica em São Tomé de Negrelos - Santo Tirso. Embora sejam regiões vizinhas, foi nos informado que ambas são rivais, que um povo não gosta do outro. Foi uma decisão do governo português de mudar a escola da Ponte, original, para esse local, porque o prédio onde a mesma se encontrava estava totalmente condenado e precisava de uma restauração. Hoje, na antiga escola, após a reforma, funciona uma associação para a terceira idade.

Outra característica precisa ser mencionada aqui: a escola original ficava no centro da vila; as crianças ocupavam o cinema, por exemplo, para realizar suas assembléias. A atual Escola da Ponte fica em um bairro rural mais afastado do centro da nova vila, e está junto com outras escolas, sendo cinco blocos A, B. C. D e E. Cada bloco é uma escola e a da Ponte é a escola “E”.

Uma das perguntas direcionadas às crianças na visita da Escola da Ponte foi sobre o que elas sentiram quando tiveram que ser transferidas da escola da Vila das Aves para a escola nova em São Tomé de Negrelos – Santo Tirso. Uma das garotas nos relatou:
“Aqui nesta escola nova os equipamentos são melhores, lá era muito fria, não tinha o chão térmico como temos nesta nova escola. Então, não necessitamos usar roupas de frio aqui dentro dela. Mas a escola da Vila das Aves lembra muito a minha infância! Lá eu podia subir nas árvores, lá tem cheiro de Ponte!”

 Quando ela nos relatou isto ela ainda expressava com os dedos um gesto de como lá era um lugar mágico, único!

Percebi, pelas falas das crianças, que mesmo mudando de lugar para outra vila a característica do projeto da escola da Ponte não desestruturou. Eles sentem orgulho de estudarem em uma escola que possui um projeto original, lembrando também que eles recebem visitas monitoradas o ano todo com pessoas do mundo todo para visitar a escola.


As crianças sabem que sua escola é vista por todos como um projeto inovador.  Mais do que isto: esses alunos presenciam e recebem visitantes todos os anos. Talvez isto explique um dos motivos de se orgulharem de estudarem ali. Será que nossas crianças brasileiras, de alguma de nossas escolas públicas teriam um depoimento deste tipo, algum dia?

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Escola da Ponte (Portugal): relação pais e escola

Em visita à Escola da Ponte, em Portugal, perguntei aos alunos sobre qual é a relação da escola com seus pais?

A resposta de uma das alunas me impressionou: “Nesta escola meus pais podem entrar quando quiserem, mesmo que seja somente para dar um abraço em mim. Eles podem visitar a escola porque participam das atividades que eu faço e da minha vida. Os portões estão sempre abertos, seja qual for a hora; eles não precisam marcar hora para me ver. Já na outra escola que estudei anteriormente, meus pais precisavam marcar hora para falar com a direção ou com os meus professores, e se precisassem me ver, não podiam, precisavam de uma autorização. Aqui não; eles serão bem recebidos o tempo todo e assim eu me sinto segura e feliz porque meus pais estão comigo aqui na escola, e eu sei que se eu precisar eles podem vir”.

Na escola da Ponte a família não é excluída e a escola está tão certa de seu Projeto que não precisa ter medo dos pais; pelo contrário, eles são partem importante do processo de desenvolvimento e aprendizagem de seus filhos. Pais presentes, aprendizagem eficaz e eficiente, crianças autônomas, responsáveis, que possuem noção de cidadania com seus direitos e deveres conscientes. Sonho?  Não! Na Ponte isto é realidade devido ao compromisso da gestão, do corpo docente, dos funcionários, dos pais e das próprias crianças. Percebi que a escola está envolvida como um todo, que existe um compromisso, de fato, com o processo de ensino e aprendizagem; e mais do que isto, existe um compromisso real com a vida daqueles seres humanos em formação democrática.

Vocês devem estar pensando que isso funciona porque é uma questão cultural europeia. Mas será que aqui no Brasil não podemos ter este exemplo? Não precisamos copiar literalmente, mas adaptar à nossa realidade. Será que ensinamos na escola, e na família, o verdadeiro valor do que seja estudar? Será que ensinamos que entre Escola e Família há uma complementaridade real, ou será que as consideramos como adversárias fazendo com que cada uma jogue na outra a responsabilidade de educar e de ensinar?


quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Escola da Ponte: sendo recepcionados pelos alunos

Quando chegamos à Ponte somos recepcionados pelos alunos; para o nosso grupo, fomos recebidos por quatro alunos: três meninas e um menino, de idades diferenciadas e de períodos de estudo diferentes; Perguntei-lhes como eram realizadas as escolhas de alunos para acompanhar os visitantes e a resposta que me deram foi surpreendente. Vejam só!

As crianças, por sua livre e espontânea vontade, se candidatam para recepcionarem os visitantes; então, a gestão da escola, juntamente com eles, decide quem irá ser o monitor para aquele determinado grupo. Aí o que fazem é levar em consideração alguns critérios, por exemplo, se necessitam falar inglês com os visitantes são escolhidos os alunos que possuem maior fluência na língua. Portanto, essa escolha não é aleatória, mas sim de acordo com o que as necessidades do grupo visitante apresenta.

Esta tarefa de acompanhar os visitantes está inserida no plano quinzenal das crianças, ou seja, faz parte da competência dos alunos receber pessoas de diferentes partes do mundo.  É algo que os alunos fazem porque querem, sem pressão ou possibilidades de prêmios ou recompensas.

E assim a visita transcorre. Quando chega no horário do intervalo de lanche dos alunos, esses que nos acompanham pedem licença e dizem que nós podemos ficar à vontade porque eles irão lanchar e que após este período de intervalo eles nos reencontrarão para continuarmos com a visita. Deixam determinado o lugar onde nos encontraremos. Terminado o lanche, eles voltam e continuam a visita; se algum professor indica que já é tempo para eles voltarem aos estudos, há um respeito mútuo diante desse pedido; então, os alunos ficam conversando conosco e continuam tirando as nossas dúvidas e depois informam que voltarão para as suas atividades escolares/acadêmicas.

Tudo isto acontece com calma, sem pressa, sem medo. Percebe-se que as crianças já estão acostumadas com este tido de visita, porque quando entramos em sala de aula todos continuam com suas tarefas como se nada tivesse acontecido, ou seja, tudo ocorre de forma natural. Existem visitantes, mas o estudo e a concentração continuam; nada é preparado ou esquematizado. Podemos ver e perguntar sobre a rotina do dia a dia sem máscaras ou preparação; eles já estão preparados para receber e serem recebidos com o devido respeito e organização, sem interferir na rotina da escola.  

Se antes de conhecer pessoalmente essa Escola eu já admirava o Projeto da Escola Da Ponte, hoje eu tenho certeza de que realmente se trata de algo diferenciado e, mais do que isto, daquilo que defendo como sendo a aprendizagem pela experiência! É claro que tudo isto não surgiu de um dia para o outro: são anos de trabalho conjunto e de história. A escola da Ponte é a teoria na prática.


quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Uso do celular na escola da Ponte (Portugal): depoimento dos alunos

Quando estava visitando a Escola da Ponte, em Portugal, perguntei aos quatro alunos que nos recepcionavam se eles tinham e podiam usar o celular a qualquer momento do dia escolar, e como é que isto era feito?

A resposta que a garota do último ano ─ que corresponde à nona série do Ensino Fundamental no Brasil ─ nos deu foi a seguinte. Primeiro ela tirou o seu celular do bolso traseiro e verbalizou: “eu tenho celular, mas fica desligado o tempo todo. Tenho o direito de usar quando for preciso para ligar, por exemplo, para os meus pais; para isso é só eu falar com o meu tutor (professor responsável pelo ano). Porém, quando se usa indiscriminadamente, sem utilidade, e quando esse hábito pode atrapalhar a aprendizagem dos alunos e dos colegas, o celular pode ser retirado e somente os pais poderão resgatá-lo. Isto é uma regra a ser cumprida por todos nós”.

Vejam só! Os alunos possuem noção dos seus direitos e dos seus deveres e possuem consciência do papel da escola na vida deles; mais do que isto, eles estudam por vontade e autonomia e não por imposição! A diferença é a consciência de ser e de se sentir um cidadão, aquele que possui respeito e que, na prática, exerce o seu direito de ir e vir, assim como o dos outros também.

Algumas escolas no Brasil proíbem o uso do celular, outras aproveitam esta tecnologia em sala de aula para a aprendizagem, mas vejo situações ruins que acontecem, desde o ensino fundamental e até o ensino superior, em que os alunos ficam grande parte do tempo na internet fazendo uso indevido e inapropriado do aparelho em sala de aula, ou seja, não fazem uso da tecnologia para ampliar seu conhecimento em sala de aula, mas para entrar em redes sociais e em aplicativos referentes à sua vida pessoal. Já presenciei o uso do celular para ironizar alguns professores e até mesmo outros colegas!
Penso que o uso do celular, ou até mesmo da internet em sala de aula, precisa ser revisto no Brasil; esta é uma discussão que perpassa não somente o uso da tecnologia, mas o que os alunos querem e esperam do aprendizado em sala de aula? O que pensam, sentem e como agem? Qual a real vontade que possuem de estudar? Enfim, ampliando um pouco mais esse questionamento, como está nosso ensino e nossa sociedade?  Qual é o valor que se dá ao estudo hoje no Brasil?


São tantas as indagações e problemas que enfrentamos hoje, no Brasil, desde a educação infantil até o ensino superior, que o uso indevido do celular em sala de aula gerará mais que somente um debate, mais uma nova forma de “ver e fazer educação”, ou até mesmo uma nova forma de ver e fazer uma sociedade brasileira. Não acho que estamos dando a devida atenção ao que chamamos de educação neste país! Para mim, a educação brasileira está falida há tempos e merece uma reestruturação.  

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Escola da Ponte (Portugal): professor Tutor (mediador do conhecimento)

Na metodologia da escola da Ponte o professor é tutor (mediador) da aprendizagem, ou seja, o aluno tem autonomia para buscar o seu conhecimento e adquirir a aprendizagem. Mas como isto funciona na prática do dia a dia?

Os alunos se sentam em grupos, quer seja no processo de iniciação, consolidação ou aprofundamento; as idades são separadas de acordo com cada Projeto, porém, não existe uma aula específica, quer seja de Língua Portuguesa ou mesmo de Matemática.  No entanto, existem conteúdos que precisam ser trabalhados, de acordo com o currículo nacional, mas estes são trabalhados em planos quinzenais de estudo, orientados com o tutor. O tutor é um professor que realiza a mediação dos conteúdos que serão aprendidos pelos alunos. É ele quem lança as atividades, os desafios para os alunos; e estes, por sua vez, precisam cumprir esses desafios e atividades para adquirirem o conhecimento. Porém, a forma como estes alunos irão buscar este conhecimento ─ se é por meio de livros, ou por outros tipos de pesquisa ─ a decisão é do aluno. Caso haja dúvida sobre algum conteúdo a ser trabalhado, justamente por não terem conseguido encontrar o material ou a forma de estudar/aprofundar o que foi indicado para se fazer, os alunos podem se inscrever em momentos individuais ou até mesmo em grupos para obterem o que necessitam para que o estudo se efetive. Assim sendo, os professores tutores darão maior atenção àquelas dúvidas surgidas.

A orientação individual, ou coletiva, sobre determinado conteúdo só será sanada pelo professor caso sejam esgotadas todas as possibilidades anteriores, sendo que o fato de perguntarem para colegas que já tenham estudado aquele tema/assunto também faz parte do processo antes de se chegar à etapa final, que é solicitar auxílio ao professor/tutor.  

O que pude verificar e constatar na visita que realizei à Escola da Ponte, é a teoria acontecendo na prática. Ali não se fala. Faz-se, de fato! Talvez este seja o grande diferencial desta escola reconhecida mundialmente. A aprendizagem de conceitos morais, éticos, e de conteúdos do currículo acontecem na aprendizagem pela experiência real e não por conceitos registrados em papeis ou em telas de vídeo. Vejo aqui, no Brasil, escolas públicas ─ e também muitas da rede particular ─ com discursos e Projetos Políticos Pedagógicos maravilhosos! No entanto, a maior parte acaba se fundamentando pela teoria e quando se espera encontrar algo que represente esse aprendizado, na prática, nada daquilo que está escrito acontece, de fato!


segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Escola da Ponte (Portugal): Orgulho de estudar aqui

Quando terminamos nossa visita pela escola da Ponte fomos até o auditório e as crianças que nos recepcionaram foram até lá. Arrumaram as mesas e cadeiras, sentaram-se no palco do auditório, e nos perguntaram o que mais queríamos saber sobre a Escola, dizendo que poderíamos perguntar. Eu imediatamente fiz a seguinte indagação: Como vocês se sentem estudando nesta escola?

Não citarei os nomes, mas somente as respostas dadas. Uma das alunas, que está no último ano ─ o que corresponde, no Brasil, ao 9º ano do Ensino Fundamental porque na Escola da Ponte não há o Ensino Médio ─ nos disse assim: “Eu sinto orgulho desta Escola, e tenho vontade de nunca sair daqui. Esta Escola é única, é diferente; aqui eu posso falar sem medo, opinar sobre o que eu penso, sem ter que me preocupar”. Com essa resposta pude perceber que essa garota está vivenciando um momento de luto, porque ela terá que ser transferida para continuar seus estudos em uma escola “normal”.

Outra criança, que estudou em outra escola uma parte de sua vida e que agora está na Ponte há quatro anos, nos disse que gosta muito de estar ali porque ela pode falar, contar sobre as coisas que pensa e que sente; que nessa Escola ela se sente acolhida, que os professores são amigos. Explicou que ela pode conversar com eles sobre ela mesma, seus problemas e que na antiga escola ela tinha medo de falar; disse que não troca esta escola por nada na vida!

O garoto relatou que tem vontade que a escola tenha ensino secundário (Ensino Médio, no Brasil), até ele chegar lá. Que se alguém o tirasse daquela escola, ele se agarraria na gestora, ou nas portas, e que ninguém conseguiria tirá-lo de lá! 


Percebi, por essas falas, que os alunos amam estar nesse lugar! Eles têm noção de que tudo ali é diferente e, então, para eles, ser diferente é ser especial. A garota que está no último ano disse que se for preciso ela parar com tudo o que está fazendo para falar sobre a Ponte, ela assim o fará porque o Projeto desenvolvido pela Escola consegue preparar os alunos para a vida como um todo. Explicou, também, que neste ano ela faz parte de uma das chapas para decidir a mesa da Assembleia, ou seja, as crianças dessa Escola acabam vivenciando, na prática, o que é ter direitos e deveres desde cedo! Elas possuem vez e voz, decidem e fazem parte do Conselho Gestor da escola para melhorias e discussões sobre os problemas que enfrentam em seus cotidianos.  

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Eu já sei/ Preciso de Ajuda/ Posso Ajudar? Escola da Ponte (Portugal)

Na Escola da Ponte as crianças possuem um cartaz onde está escrito: “Eu já sei/ Preciso de Ajuda/ Posso Ajudar?” É uma pena que não pude fotografar para vocês, mas vamos lá, tentarei escrever sobre o que vi. Este cartaz fica exposto na sala, como em um Mural; é uma folha grande de papel (acho que na medida A3), com linhas e dividido em três partes. A própria criança marca neste cartaz o seu nome, de acordo com a sua necessidade ou vontade.

Este cartaz representou, para mim, uma forma de cooperação e solidariedade entre todos. Eu já sei: significa que estou preparado para realizar uma avaliação sobre aquele determinado conteúdo. Preciso de ajuda: determina que outros colegas podem me auxiliar em minha dificuldade. Posso Ajudar: significa que estou livre das minhas tarefas e que sei o conteúdo para auxiliar alguém.

Confesso que adorei esta ideia de socializar para a turma toda, colocando em um cartaz os sinais do que cada criança tem ou precisa; é uma forma de saber o que se passa com os outros, de não achar que todo mundo sabe tudo e de que alguém pode, em algum momento, contribuir com o outro. Não existe aquele que não sabe nada, até porque as turmas são multisseriadas. É visível, a partir deste cartaz, que todos possuem facilidades e dificuldades de aprendizagem. Ninguém se sente sozinho no processo de ensino, pois todos podem enxergar, no outro, suas conquistas e possíveis dificuldades. Na Ponte nenhuma criança se sente sozinha, mas parte integrante de um grupo que está colaborando um com o outro para a vida em sociedade. Conversando com as crianças, um menino nos disse que ele se sente preparado para a vida, que a Ponte dá isto para ele!

Além de conteúdos formais eles também aprendem a respeitar um ao outro e não querer se exibir ou ser melhor do que o outro. Já que todos vivem em comunidade e precisam uns dos outros, isto é viver em sociedade! Estes comportamentos são transmitidos às crianças em ações práticas e perceptíveis e não em conceitos ou teoria!


quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Acho mal/ Acho bem: Escola da Ponte (Portugal)

Na Escola da Ponte, em Portugal, existe um cartaz denominado ACHO BEM e ACHO MAL; nele, os alunos marcam as atitudes uns dos outros. Por exemplo: se eu, Vanda, acho mal que o Luis está xingando a Adriana, eu vou ao cartaz e coloco esta informação; se durante a semana a atitude do Luis perante a Adriana mudar, eu Vanda, posso ir até o cartaz e apagar, mas se não for apagado até sexta-feira, este assunto será discutido por todos. O mesmo acontece para as atitudes que eu achar que são boas.

Este cartaz é uma forma de conscientizar o coletivo sobre as nossas atitudes e as atitudes dos colegas em geral, ou seja, é uma metodologia de reflexão e de possíveis mudanças de comportamento. Quem gostaria de ver seu nome exposto por questões negativas? Isto faz com que todos percebam, na relação com o outro, uma forma aberta e democrática daquilo que podemos causar, ou não, para com os outros.

Este cartaz também é uma maneira de controle dos comportamentos ─ tanto positivos, quanto negativos ─ de modelagem de comportamento social e o estabelecimento de regras do que seja uma atitude favorável ─ ou não ─ para com os demais. Em sociedade, na vida adulta, precisamos ter consciência dos nossos atos, e isto é ensinado na prática desde pequenos na Escola da Ponte, e este talvez seja o grande diferencial desta escola: educar na prática dos acontecimentos. Na sexta-feira todos conversam sobre as atitudes que estão dispostas no cartaz, todos os alunos possuem liberdade de expressão sobre qualquer atitude que venha de outro.  Além disto, todos possuem voz. Vi uma aluna maior conversar com outra pequena no corredor da escola sobre o fato da mesma estar correndo; ela conversou com a criança e não precisou de um adulto (tutor) para fazer isto.


Fica aqui uma reflexão: o que fazemos, na prática, para que os nossos alunos aprendam o valor do coletivo e o significado de aprender a socializar as observações e as vivências?

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Escola da Ponte (Portugal): autonomia

Já li muito sobre a escola da Ponte quanto à autonomia da criança em aprender, mas verificando, na prática como isso se dá, seguem alguns comentários que só são percebidos quando vamos até lá e conversamos com os alunos.

Cada aluno, juntamente com se u tutor (professor), estabelece a cada quinze dias um Plano de Estudos baseado no currículo que eles precisam estudar. Em pequenos grupos, com idades e estudos diferenciados, eles realizam as tarefas quinzenais. A autonomia aqui não é total ou ─ como alguns podem pensar ─ uma anarquia na qual os alunos não obedecem a regras ou a currículo para o estudo! Pelo contrário: as regras estão lá o tempo todo (direitos e deveres), mas o tempo que cada aluno vai levar para realizar a sua tarefa depende de seu ritmo, ou seja, não precisam realizar uma tarefa em 50 minutos, mas precisam terminá-la para passar para o próximo conteúdo. Em Portugal, assim como no Brasil, existem avaliações propostas pelo governo, então, estes alunos também realizam estas provas e os conteúdos precisam ser apreendidos.


Porém, a forma como eles irão aprender, se sozinhos em pesquisas, se pedindo auxílio a um outro colega que já tenha feito essa atividade, enfim, eles escolhem e depois, por último, vêm ter com o professor; com relação a isto eles possuem autonomia de decisão. Quando percebem que já estão prontos, ou seja, que já sabem aquele determinado conteúdo, eles escrevem em um cartaz “EU JÁ SEI” e o tutor lhes dá alguns exercícios para serem avaliados. Estes exercícios não serão realizados em sala separada: serão feitos nos pequenos grupos, sendo que nestes grupos um aluno pode estar realizando tarefas de História, outro de Matemática, tudo de acordo com o seu plano quinzenal de atividades. Além disso, as idades e os conteúdos são variados, ou seja, cada aluno está fazendo a sua atividade, e a regra é: “Se não souber fazer sozinho, primeiro busque ajuda com seus os colegas; depois chama pelo Tutor”. E depois, se precisar de alguma explicação mais profunda, marcam com seus tutores uma aula separada daquele conteúdo. É tudo muito bem pensado e organizado. A autonomia depende do ritmo e da forma como cada um vai adquirir aquele conteúdo, mas os conteúdos fazem parte do Currículo como qualquer outra escola em Portugal.

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Série Portugal - Direitos e Deveres: Escola da Ponte (Portugal)


Estive em outubro visitando a escola da Ponte em Portugal. Quem nos leva para conhecer o Projeto são as próprias crianças que estudam lá. Elas se apresentaram e pediram que nós nos dividíssemos em dois grupos. Cada grupo ficou com duas crianças, sendo que no começo da visita elas nos levaram até um cartaz afixado na parede de vidro, logo na entrada da escola. Nele estão escritos os Direitos e os Deveres, e uma das crianças passa a lê-los para todos.  Pois bem: um dos Direitos dos visitantes é perguntar sobre o Projeto da Escola, mas um dos Deveres é não fotografar a Escola, pelo fato de já terem tido problemas com outros visitantes sobre o uso indevido da imagem; portanto, hoje é proibido tirar fotos dentro do recinto.

Mas o que me chamou a atenção é que vivemos numa democracia e aqui no Brasil todos pensam muito nos direitos que temos e se esquecem dos deveres... Nessa Escola em Portugal, desde cedo se trabalha com as crianças são os Direitos e também os Deveres. Ou seja, ninguém acha que tem direito a tudo, e todos crescem sabendo que existem deveres de cidadania.

Um fato que me chamou a atenção foram os armários coloridos de cada aluno, sem chave! Lá eles colocam seus lanches e casacos. Perguntei à aluna que nos acompanhava se alguém já havia furtado algum lanche de outra criança e ela disse que sim, mas que quando isto acontece eles avisam os tutores (professores) que conversam com todos e que se descobrirem quem fez e ele persistir no erro, a má conduta é levada a uma Assembleia das crianças e o aluno é exposto perante todos. No entanto, para que isto não aconteça, todos devem respeitar o dever de não mexer no armário de outra criança sem a devida permissão. Quando o assunto chega até a Assembleia é por que houve um desrespeito aos Deveres de alunos.


Isto é o exercício pleno da cidadania sendo trabalhado desde cedo com as crianças! Dessa forma elas aprendem, desde cedo ─ e na prática real ─ que há consequências para os seus atos.