Estava na manicure quando entrou
uma garotinha loirinha, de olhos azuis, com sua mãe; ela aparentava ter uns
cinco anos de idade. A atendente verbalizou a frase do título, mas a menina
ficou quieta e não falou nada. A mãe, então, verbalizou: “Gabriela, diz
obrigada para a moça!” A menina respondeu: “Já estou cansada de ouvir isto!” A
mãe ficou sem graça e repreendeu a menina falando-lhe para que pedisse desculpas
à manicure, que era muito feio falar assim em público, enfim, fez um sermão danado
na frente de todos. A menina continuou quieta e a mãe, diante do silêncio da
filha, acabou por pedir desculpas à profissional, e ainda ameaçou a menina
dizendo em tom áspero: ”Lá em casa nós conversamos!”
Nesta cena me dei conta de quanto
nós, adultos, invadimos as crianças com as nossas falas e acabamos mexendo com
as mesmas sem que elas queiram; depois, quando essas crianças se mantém alheias
às solicitações que fazemos, ou quando nos respondem de uma maneira que consideramos
inadequada, acabamos por considerá-las culpadas e, então, usamos de ameaças por
terem realizado tamanha façanha.
Vejam só: quem “provocou” a
garota foi alguém que não é do seu convívio. Então, por que ela precisaria agradecer
à pessoa desconhecida? Outra coisa: quantas vezes ela já deve ter ouvido, por
parte de pessoas desconhecidas, que é linda com aqueles olhos azuis, quando, na
verdade, ela gostaria de ouvir a mesma frase elogiosa por parte de alguém de
sua família, alguém realmente próximo a ela afetivamente? Poderíamos pensar,
por exemplo, que ela herdou os olhos azuis de sua mãe e que, por litígio de
separação do casal, o pai ─ que talvez não tenha os mesmos belos olhos azuis─
não teça nenhum tipo de elogio a esse traço genético para não reforçar essa
semelhança com sua ex-mulher? Penso que muitos adultos provocam as crianças sem
necessidade e quando elas não gostam, ou não compartilham da situação em
questão, ainda são obrigadas a serem simpáticas? Pode isto?