Quando penso em uma escola
integrada com a natureza, em uma fazenda com árvores e animais, não penso em
uma escola desconectada do mundo. Somos seres culturais e históricos, somos o produto
de antigas civilizações. Assim, precisamos de música, teatro, filmes,
literatura, poesia, esculturas, pinturas, arte em geral para vivermos de forma
saudável.
A natureza nos proporciona sons,
cheiros, sensações com o vento, o frio e a chuva, com o sol, sabores e aromas,
texturas e tonalidades que são únicas e que podem servir de inspiração para a
representação de diversas áreas culturais. Vivemos hoje em superfícies lisas,
recobertas por cimento, borracha, impermeabilizantes... usamos celulares,
tablets e computadores para nos comunicarmos e para nos divertirmos, somos
estimulados a nos conectarmos com o mundo e com as pessoas de maneira virtual e
asséptica. Então, conectar-se com a natureza passou a significar uma
necessidade de saúde e de bom desenvolvimento, acessando a fonte primária e
primordial de experimentações que são únicas para cada ser humano.
Desde criança é necessário ativar
regiões do cérebro que só serão devidamente acessadas se forem propiciados estímulos
e ingredientes diferentes, sendo que a natureza nos dá esta oportunidade. Andar
descalço na terra, na grama, nas pedras é só um exemplo importante para sermos
pessoas mais saudáveis, pois cada lugar nos provoca sensações diferentes; cada
superfície que tocamos ativa nervuras e musculaturas que se reportam ao sistema
nervoso central e que este, por sua vez, devolve ao sistema nervoso periférico
e ao nosso sistema sensorial como forma de acordar estruturas que não seriam utilizadas
por aquelas crianças que só andam de meias e calçados sobre superfícies
impermeabilizadas e lisas.
Vocês podem estar pensando que
pisar no chão de terra, areia, pedra, grama e poça d’água... é expor a criança
ao sujo e ao frio. Ora, minha gente: sujeira se lava, toma-se banho e lá estão
os pés recebendo outro tipo de estímulo, um pouco mais forte que o usual, ou
seja, hora da bucha, da escova, da esponja mais áspera... estímulos que irão
proporcionar mais experimentações e sensações! Se isso não for feito enquanto
oferta e contato com texturas, temperaturas e movimentos de forma adequada e
equilibrada em idades específicas, essas atividades que estimulam as áreas
mencionadas acima terão o que se chama de lei do uso e do desuso: o que não se
usa, atrofia, perde-se!
Somente uma escola sustentável em
meio à natureza poderá propiciar estas experiências com os sabores, cheiros,
sons, com diversas imagens e com sensações de tato nas mãos e pés. Nossas escolas atuais se preocupam em
propiciar atividades motoras finas ─ precocemente para as mãos ─ cujo objetivo
é fazer com que as crianças segurem no lápis e escrevam de maneira correta;
porém, esquecem-se de que somos um corpo integrado! Nas escolas de Educação
Infantil e principalmente no Ensino Fundamental é muito raro vermos atividades
voltadas para os pés, para o equilíbrio, a pele, os sentidos. A maior parte das
escolas da atualidade nega o corpo do educando preocupando-se somente com o
intelecto. Então, vamos recapitular? Não somos apenas intelecto, raciocínio e
razão. Aliás, para que nosso intelecto funcione adequadamente são necessários
estímulos provenientes de diferentes áreas e regiões, pois cada uma delas se
integra à outra em amplas redes neurais, sendo que o todo corresponde à função
solicitada! Por isso, é importante que como pais e educadores sempre nos
lembremos de propiciar atividades culturais, esportivas, espontâneas e
cognitivas, regadas de muita afetividade, respeito e consideração para que as
crianças desenvolvam, de forma integral e integrada, o que a vida que lhes pede
sempre. Isto não significa prepará-las para uma nova etapa da vida, mas sim
educá-las para viver a cada dia como se este fosse único e especial, com saúde
em todos os aspectos.
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