quarta-feira, 8 de junho de 2016

Cultura integrada à natureza

Quando penso em uma escola integrada com a natureza, em uma fazenda com árvores e animais, não penso em uma escola desconectada do mundo. Somos seres culturais e históricos, somos o produto de antigas civilizações. Assim, precisamos de música, teatro, filmes, literatura, poesia, esculturas, pinturas, arte em geral para vivermos de forma saudável.

A natureza nos proporciona sons, cheiros, sensações com o vento, o frio e a chuva, com o sol, sabores e aromas, texturas e tonalidades que são únicas e que podem servir de inspiração para a representação de diversas áreas culturais. Vivemos hoje em superfícies lisas, recobertas por cimento, borracha, impermeabilizantes... usamos celulares, tablets e computadores para nos comunicarmos e para nos divertirmos, somos estimulados a nos conectarmos com o mundo e com as pessoas de maneira virtual e asséptica. Então, conectar-se com a natureza passou a significar uma necessidade de saúde e de bom desenvolvimento, acessando a fonte primária e primordial de experimentações que são únicas para cada ser humano.

Desde criança é necessário ativar regiões do cérebro que só serão devidamente acessadas se forem propiciados estímulos e ingredientes diferentes, sendo que a natureza nos dá esta oportunidade. Andar descalço na terra, na grama, nas pedras é só um exemplo importante para sermos pessoas mais saudáveis, pois cada lugar nos provoca sensações diferentes; cada superfície que tocamos ativa nervuras e musculaturas que se reportam ao sistema nervoso central e que este, por sua vez, devolve ao sistema nervoso periférico e ao nosso sistema sensorial como forma de acordar estruturas que não seriam utilizadas por aquelas crianças que só andam de meias e calçados sobre superfícies impermeabilizadas e lisas.  

Vocês podem estar pensando que pisar no chão de terra, areia, pedra, grama e poça d’água... é expor a criança ao sujo e ao frio. Ora, minha gente: sujeira se lava, toma-se banho e lá estão os pés recebendo outro tipo de estímulo, um pouco mais forte que o usual, ou seja, hora da bucha, da escova, da esponja mais áspera... estímulos que irão proporcionar mais experimentações e sensações! Se isso não for feito enquanto oferta e contato com texturas, temperaturas e movimentos de forma adequada e equilibrada em idades específicas, essas atividades que estimulam as áreas mencionadas acima terão o que se chama de lei do uso e do desuso: o que não se usa, atrofia, perde-se!

Somente uma escola sustentável em meio à natureza poderá propiciar estas experiências com os sabores, cheiros, sons, com diversas imagens e com sensações de tato nas mãos e pés.  Nossas escolas atuais se preocupam em propiciar atividades motoras finas ─ precocemente para as mãos ─ cujo objetivo é fazer com que as crianças segurem no lápis e escrevam de maneira correta; porém, esquecem-se de que somos um corpo integrado! Nas escolas de Educação Infantil e principalmente no Ensino Fundamental é muito raro vermos atividades voltadas para os pés, para o equilíbrio, a pele, os sentidos. A maior parte das escolas da atualidade nega o corpo do educando preocupando-se somente com o intelecto. Então, vamos recapitular? Não somos apenas intelecto, raciocínio e razão. Aliás, para que nosso intelecto funcione adequadamente são necessários estímulos provenientes de diferentes áreas e regiões, pois cada uma delas se integra à outra em amplas redes neurais, sendo que o todo corresponde à função solicitada! Por isso, é importante que como pais e educadores sempre nos lembremos de propiciar atividades culturais, esportivas, espontâneas e cognitivas, regadas de muita afetividade, respeito e consideração para que as crianças desenvolvam, de forma integral e integrada, o que a vida que lhes pede sempre. Isto não significa prepará-las para uma nova etapa da vida, mas sim educá-las para viver a cada dia como se este fosse único e especial, com saúde em todos os aspectos.

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