Atualmente muito se fala em
educação integral, mas confunde-se o termo e a forma como ele vem sendo
aplicado nas escolas. Educação integral é algo no qual são levados em
consideração no planejamento escolar todos os aspectos de desenvolvimento de
uma criança: aspectos físicos (saúde e motricidade), emocionais e cognitivos.
Estes aspectos estão inseridos em uma cultura que propicia ao sujeito
desenvolver um jeito de ser, de pensar e de agir compatível ao mundo que o
rodeia. Quando essa compatibilidade não se adéqua ao contexto social, dizemos
que o indivíduo é um marginal, ou seja, que ele está à margem do fluxo pelo
qual a sociedade caminha.
Bem, vamos lá com os conceitos de
ser integral: Com as novas pesquisas em neurociências descobriu-se que o
cérebro não é usado em sua totalidade em nossas escolas, privilegiando muito
mais a área da cognição em detrimento da emocional e da motora. A escola acaba
ignorando estes dois aspectos, pois não reconhece o corpo do indivíduo como
fazendo parte de seu sistema integral; e ainda pior: não reconhece suas emoções
e sentimentos. Não adianta aumentar o tempo na escola e não proporcionar outras
atividades para as crianças além das cognitivas, como aulas de reforço que
muitas escolas que dobram período, ou algumas ONGs, acabam fazendo. O
planejamento escolar do dia deve conter atividades que desenvolvam a criança em
sua totalidade.
Acredito que o primeiro
ensinamento que devemos proporcionar aos pequenos é que temos um corpo que nos
possibilita fazer muitas coisas; esse aprendizado deve ser realizado pela
experiência, por exemplo, brincar de não movimentar as pernas, estando sentado
em uma cadeira, para perceber o valor de se poder andar e correr, e de considerar
como é a vida de um cadeirante. Essa atividade poderia ser dada com poucos
obstáculos e dificuldades, na educação infantil, mas poderia ser mais ousada e
dificultosa no ensino fundamental. Outra
atividade poderia ser a de se fazer em duplas a brincadeira “o Cego e o Guia”,
onde um dos alunos está com os olhos tampados por um lenço e o outro colega lhe
direciona pelos lugares informando o que tem pelo caminho, ou como poderia
fazer para encher um copo com água e beber. Esses exemplos vivenciais ensinam,
na prática, o valor dos sentidos dentro de nossa sobrevivência e da vida social.
No entanto, quando esse tipo de atividade se realiza, por um profissional da
educação, na maioria das vezes isso ocorre em escolas de educação infantil como
um simples entretenimento, geralmente em dias de chuva! Ainda não vi esse tipo
de atividade acontecer no ensino fundamental, pois neste nível o pedagogo acaba
por ignorar corpo e movimento ─ porque também ele é convencido de que isso faz
parte do brincar na educação infantil ─ acelerando as crianças para aprender
letras e números ou para pintar dentro dos espaços limitados dos desenhos.
Para conhecermos a nós mesmos
precisamos nos tornar bons observadores de nossos sentidos e movimentos; precisamos
nos lembrar de que os alunos estão em processo de desenvolvimento
neuro-psico-motor. Como pedagogos precisamos oferecer experiências para que as
crianças e os jovens possam exercitar a observação em si e no outro, que possam
compartilhar da experiência pela motricidade e comunicação, vivenciando
personagens de contos e fábulas, ou mesmo personagens da vida real, e que isso
possa ser experienciado por meio de jogos para serem vividos e compartilhados em
sala de aula, não só na educação infantil, como ─ principalmente ─ no ensino
fundamental.
Afinal, se a vida urbana está
retirando, cada vez mais, das crianças e jovens o corpo em movimento, a escola,
de alguma maneira, deveria repor!
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