segunda-feira, 20 de junho de 2016

Educação de corpo e sentidos pelo caminho da experiência

Atualmente muito se fala em educação integral, mas confunde-se o termo e a forma como ele vem sendo aplicado nas escolas. Educação integral é algo no qual são levados em consideração no planejamento escolar todos os aspectos de desenvolvimento de uma criança: aspectos físicos (saúde e motricidade), emocionais e cognitivos. Estes aspectos estão inseridos em uma cultura que propicia ao sujeito desenvolver um jeito de ser, de pensar e de agir compatível ao mundo que o rodeia. Quando essa compatibilidade não se adéqua ao contexto social, dizemos que o indivíduo é um marginal, ou seja, que ele está à margem do fluxo pelo qual a sociedade caminha.

Bem, vamos lá com os conceitos de ser integral: Com as novas pesquisas em neurociências descobriu-se que o cérebro não é usado em sua totalidade em nossas escolas, privilegiando muito mais a área da cognição em detrimento da emocional e da motora. A escola acaba ignorando estes dois aspectos, pois não reconhece o corpo do indivíduo como fazendo parte de seu sistema integral; e ainda pior: não reconhece suas emoções e sentimentos. Não adianta aumentar o tempo na escola e não proporcionar outras atividades para as crianças além das cognitivas, como aulas de reforço que muitas escolas que dobram período, ou algumas ONGs, acabam fazendo. O planejamento escolar do dia deve conter atividades que desenvolvam a criança em sua totalidade.

Acredito que o primeiro ensinamento que devemos proporcionar aos pequenos é que temos um corpo que nos possibilita fazer muitas coisas; esse aprendizado deve ser realizado pela experiência, por exemplo, brincar de não movimentar as pernas, estando sentado em uma cadeira, para perceber o valor de se poder andar e correr, e de considerar como é a vida de um cadeirante. Essa atividade poderia ser dada com poucos obstáculos e dificuldades, na educação infantil, mas poderia ser mais ousada e dificultosa no ensino fundamental.  Outra atividade poderia ser a de se fazer em duplas a brincadeira “o Cego e o Guia”, onde um dos alunos está com os olhos tampados por um lenço e o outro colega lhe direciona pelos lugares informando o que tem pelo caminho, ou como poderia fazer para encher um copo com água e beber. Esses exemplos vivenciais ensinam, na prática, o valor dos sentidos dentro de nossa sobrevivência e da vida social. No entanto, quando esse tipo de atividade se realiza, por um profissional da educação, na maioria das vezes isso ocorre em escolas de educação infantil como um simples entretenimento, geralmente em dias de chuva! Ainda não vi esse tipo de atividade acontecer no ensino fundamental, pois neste nível o pedagogo acaba por ignorar corpo e movimento ─ porque também ele é convencido de que isso faz parte do brincar na educação infantil ─ acelerando as crianças para aprender letras e números ou para pintar dentro dos espaços limitados dos desenhos.

Para conhecermos a nós mesmos precisamos nos tornar bons observadores de nossos sentidos e movimentos; precisamos nos lembrar de que os alunos estão em processo de desenvolvimento neuro-psico-motor. Como pedagogos precisamos oferecer experiências para que as crianças e os jovens possam exercitar a observação em si e no outro, que possam compartilhar da experiência pela motricidade e comunicação, vivenciando personagens de contos e fábulas, ou mesmo personagens da vida real, e que isso possa ser experienciado por meio de jogos para serem vividos e compartilhados em sala de aula, não só na educação infantil, como ─ principalmente ─ no ensino fundamental.

Afinal, se a vida urbana está retirando, cada vez mais, das crianças e jovens o corpo em movimento, a escola, de alguma maneira, deveria repor!


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