terça-feira, 17 de março de 2015

Pais não devem transformar os filhos em confidentes: meu amigão

Um pai (divorciado e atualmente solteiro) me disse que seu filho de nove anos é seu confidente e melhor amigo. “Conto tudo para ele”. Perguntei: tudo o que? Ele respondeu: “Tudo sobre minha vida pessoal (namoradas) e também sobre a profissional: quanto ganho, meus medos, minhas ansiedades. Quero que com o meu exemplo ele também pratique isto. Que conte a mim, para não contar para um traficante”. Conversa vai, conversa vem, ele me relatou que até mesmo as inseguranças e questões sexuais ele fala para o filho, e que faz isto desde os sete anos de idade do menino.

Bem, vamos às reflexões: Uma criança não é capaz de pensar como um adulto e, muitas vezes, não tem consciência de fatos e/ou atitudes que são tomadas por um adulto, justamente por que ainda não está na idade certa para entender, por exemplo, o que é sentir um orgasmo, perder o emprego, sofrer retaliações e assédios no local de trabalho, enfim, são situações que um adulto vivencia e que é muito difícil supor que uma criança possa saber o que significa isso na vida de uma pessoa! Tudo tem seu tempo e sua hora; por isto é que existe o desenvolvimento humano em fases nos mostrando que não devemos adiantar falas/ assuntos pertinentes a outra etapa da vida de um indivíduo, achando que isso é ser amigo, orientador e que fará bem para uma criança.

Tudo bem querer ser amigo do filho, então, seja um amigo conversando sobre os desenhos e filmes que ele assiste, sobre os jogos eletrônicos com os quais brinca, sobre o jogo de futebol do time favorito, sobre a escola, sobre quando você era da idade dele... mas, por favor, não conversem sobre sentimentos e situações que mais podem confundir do que ajudar no desenvolvimento saudável de uma criança!


Ter um pai amigo é muito importante para o desenvolvimento e amadurecimento de uma criança, mas é preciso que esse pai saiba quais são os limites de se ser amigo de alguém muito mais jovem. Os pais não devem esconder os problemas dos filhos, mas expor dentro do campo de compreensão compatível com a idade da criança, ou do jovem, esperando oferecer, com isso, um vínculo de presença e de compartilhamento, e não de projeção esperando que os filhos sejam o conforto e o amparo para as difíceis situações. Os problemas dos adultos não devem ser um peso para os filhos! Eles não podem se sentir culpados, ou impotentes, por algo que está acontecendo; toda criança precisa saber das dificuldades do dia a dia, mas sem exageros e dentro de um campo próprio da idade infantil. Tudo deve ser feito na idade certa para que essa criança cresça com segurança emocional e venha a se tornar um adolescente equilibrado e sem problemas.

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