Um pai (divorciado e atualmente
solteiro) me disse que seu filho de nove anos é seu confidente e melhor amigo. “Conto
tudo para ele”. Perguntei: tudo o que? Ele respondeu: “Tudo sobre minha vida pessoal
(namoradas) e também sobre a profissional: quanto ganho, meus medos, minhas
ansiedades. Quero que com o meu exemplo ele também pratique isto. Que conte a
mim, para não contar para um traficante”. Conversa vai, conversa vem, ele me
relatou que até mesmo as inseguranças e questões sexuais ele fala para o filho,
e que faz isto desde os sete anos de idade do menino.
Bem, vamos às reflexões: Uma
criança não é capaz de pensar como um adulto e, muitas vezes, não tem
consciência de fatos e/ou atitudes que são tomadas por um adulto, justamente
por que ainda não está na idade certa para entender, por exemplo, o que é
sentir um orgasmo, perder o emprego, sofrer retaliações e assédios no local de
trabalho, enfim, são situações que um adulto vivencia e que é muito difícil
supor que uma criança possa saber o que significa isso na vida de uma pessoa! Tudo
tem seu tempo e sua hora; por isto é que existe o desenvolvimento humano em
fases nos mostrando que não devemos adiantar falas/ assuntos pertinentes a outra
etapa da vida de um indivíduo, achando que isso é ser amigo, orientador e que
fará bem para uma criança.
Tudo bem querer ser amigo do
filho, então, seja um amigo conversando sobre os desenhos e filmes que ele assiste,
sobre os jogos eletrônicos com os quais brinca, sobre o jogo de futebol do time
favorito, sobre a escola, sobre quando você era da idade dele... mas, por favor,
não conversem sobre sentimentos e situações que mais podem confundir do que
ajudar no desenvolvimento saudável de uma criança!
Ter um pai amigo é muito
importante para o desenvolvimento e amadurecimento de uma criança, mas é
preciso que esse pai saiba quais são os limites de se ser amigo de alguém muito
mais jovem. Os pais não devem esconder os problemas dos filhos, mas expor
dentro do campo de compreensão compatível com a idade da criança, ou do jovem,
esperando oferecer, com isso, um vínculo de presença e de compartilhamento, e
não de projeção esperando que os filhos sejam o conforto e o amparo para as
difíceis situações. Os problemas dos adultos não devem ser um peso para os
filhos! Eles não podem se sentir culpados, ou impotentes, por algo que está
acontecendo; toda criança precisa saber das dificuldades do dia a dia, mas sem
exageros e dentro de um campo próprio da idade infantil. Tudo deve ser feito na
idade certa para que essa criança cresça com segurança emocional e venha a se
tornar um adolescente equilibrado e sem problemas.
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