sexta-feira, 20 de março de 2015

“Se você ficar bonzinho, dou um chocolate para você!”

Estava no elevador de um prédio residencial quando uma mãe entrou com seu filho de, aproximadamente, sete anos. Como toda criança, uma graça de garoto, esperto, falante e mencionando que iriam passear no shopping. Eles me conhecem há algum tempo porque tem uma pessoa de minha família que reside nesse prédio. Este menino é muito inteligente, curioso e brincalhão, ou seja, é uma criança feliz que, às vezes, acaba irritando a mãe por entrar no meio das conversas que ela tece com algum conhecido, mesmo que sejam conversas breves, no percurso entre andares no elevador.

Naquele dia que nos encontramos no elevador ela disse assim na minha frente: “João, nós vamos ao shopping e eu quero que você se comporte!” Ao mesmo tempo, ela falava comigo: “Sabe, Vanda, quando a gente sai, ele quer conversar com todo mundo. No shopping ele quer correr, entrar e sair das lojas que lhe interessam... né, João? Eu já disse a ele que não pode; às vezes, nem sei mais o que eu faço... mas se você se comportar direito, ficar bonzinho, quieto, não correr, não pular, não subir nos bancos, não conversar com estranhos, esperar quietinho a comida chegar... se fizer tudo direitinho, eu prometo que quando chegarmos em casa eu te dou um chocolate! Combinado?” O garoto respondeu que sim, desde que o chocolate fosse da marca X, que ele tanto gostava. Bem, para saber o final da história, num outro dia que eu encontrei a mãe do menino perguntei-lhe se ele tinha se comportado direito naquele dia que eu havia presenciado as falas e os combinados; ela me respondeu que não, e que ele estava de castigo por uma semana, sem direito a comer chocolate algum por esse período.

Bem, vamos refletir: a chantagem que a mãe fez com João, muitas vezes não funciona! Isto não é educar, mas usar de reforçamento positivo (adestramento) para fazer com que a criança responda ao solicitado da forma como foi estipulado pela mãe. E isto não é educar! É cobrar sem ensinar; é adestrar com premiação ou punição, fazendo uso de chantagem. Então, o que seria o mais correto?  Conversar sobre os perigos de correr em um shopping, de pedir que ele pensasse se todas as crianças corressem em shoppings, como seria para os pais encontrá-los e evitar que surgissem outros perigos como caírem, machucarem pessoas idosas ou outras crianças que estivessem no caminho, enfim, explicar que se acontecesse com ele, da mãe perdê-lo, como faria para encontrá-lo... que se ele caísse e quebrasse alguma vitrine ou objeto de alguma loja, quanto custaria para sanar o prejuízo, incluindo, com isso, o prejuízo físico de que ele poderia sair muito machucado. A mãe deveria dizer para esse filho ativo e inteligente, como é que se comporta em um shopping, e como é que a gente se comporta em público;  ou seja, explicar os porquês, sem nenhuma chantagem, é o mais correto. Pode até contar alguma história de alguém que tenha vivido algo assim para que o garoto pudesse compreender o fato por uma narrativa e não apenas por um discurso explicativo. Então, para os pais que fazem uso desse tipo de “atitude educacional”, peço que reflitam sobre o seguinte aspecto: hoje a chantagem é com comida... e quando o filho ficar maior?  É possível que ele queira chantagear com outra coisa, talvez com algo que vocês não possam comprar!  Por isso, a reflexão deve ser feita agora: quais serão as consequências de um ato ─ sustentado pelos pais ─ que começou na infância? 

Nenhum comentário:

Postar um comentário