terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Entre a experiência e a informação

Muitas vezes pensamos na educação como uma maneira de verdadeiramente formar alguém, de modo a que o conhecimento adquirido ─ seja no Ensino Fundamental ou no Ensino Superior ─ represente algo significativo, verdadeiro e que agregue condições reflexivas para se pensar sobre a realidade, as culturas, as pessoas...

Vou contar um breve relato que vivenciei em outubro do ano passado, quando visitei escolas em Portugal: cheguei toda empolgada para contar para minhas alunas do curso de Pedagogia o que tinha visto, como era o sistema público de ensino, da Educação Infantil até o nosso Ensino Médio, enfim... Levei um banho de água fria quando uma aluna me perguntou se aquele conteúdo cairia na prova e que, se caso se ela faltasse, se iria ficar com falta.  Na hora fiquei indignada com tamanha estranheza por alguém do curso de Pedagogia não querer conhecer sobre outras culturas educacionais, principalmente por uma cultura que tem muito a ver com a nossa história!

No entanto, depois acabei refletindo, e constatei que esta e outras alunas do curso não conhecem direito nem a cidade onde vivem, e nem como funciona o sistema educacional do Brasil... trabalham arduamente durante o dia e estudam à noite, a maior parte delas têm marido e filhos pequenos... então, por que se interessariam por algo fora de sua realidade, por algo que é impossível de ser alcançado devido à condição material atual de um aluno de curso noturno e trabalhador, que mal consegue pagar pelas cópias das apostilas solicitadas pelas disciplinas que está cursando, ou mesmo pelas passagens de ônibus para ir à faculdade? 

Percebi o quanto o que eu queria trazer como relato de uma experiência vivida por mim seria algo extremamente distante para ela, porque o mais importante naquele momento  ─ infelizmente ─ era conseguir dar conta de estar presente nas aulas e de conseguir fazer as provas!  Refleti que o erro foi meu de querer que ela e outras alunas conhecessem outras culturas educacionais, mas que isso só lhes serviria de informação! No meu caso, entretanto, ter ido estudar, na prática, por meio da experiência outro modelo de ensino, fez e faz todo sentido para aquilo que quero alcançar em minha vida profissional! Para mim, tudo o que vi acabou se transformando em conhecimento para a minha vida e, para ela, toda a narrativa serviria somente de informação.

Espero que um dia possamos ter, nos cursos de formação de professores, mais tempo para realizar experiências concretas de conhecimento. As alunas, futuras professoras, merecem isso!

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