quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Posição de borboletas: todos sentados!

Estava observando, em uma escola, uma sala com crianças de dois anos de idade e sua professora. Esta pedia às crianças, na roda de conversa, que se sentassem em forma de borboletas.  A professora me olhava, quase se desculpando, dizendo que achava estranho o que estava acontecendo, porque ela falava para que eles se sentassem em posição de borboletas e eles não entendiam. Dizia que inúmeras vezes ela se sentava e mostrava como era, mas que alguns não ficavam tempo algum naquela posição, procurando se sentar de outra maneira. A professora ainda dizia que daquele jeito ela não conseguiria contar história para o grupo todo, que ali havia algum problema, que daquela forma era impossível! 

Diante daquele quadro eu disse a ela para ter calma e que nós pensaríamos juntas. Comecei a direcionar a conversa e o que observei é que ela estava exigindo algo das crianças fora da idade deles, ou seja, com dois anos de idade as crianças querem andar, pular, correr, explorar todos os lugares.  Fui falando que crianças com essa idade ainda não possuem concentração para ficarem parados ouvindo algo por muito tempo, que contar histórias compridas para esta idade é incoerente, e que querer que eles se sentem como uma borboleta é algo fora da realidade. Vamos pensar: será que as crianças conhecem borboletas e, se conhecem, será que borboletas sentam com as pernas cruzadas?  Melhor dizendo: Borboletas possuem pernas?

Muitas vezes não pensamos o que falamos para as crianças; usamos uma linguagem inadequada, e tentamos adestrá-las para se sentarem quando estão na idade de exploração de seu corpo e dos lugares que as rodeiam. A professora me disse: “você tem razão, mas o que eu faço para que eles ouçam histórias?”

Que tal começar com histórias de uma ou duas páginas, somente para que as crianças comecem a tomar consciência do que seja história? É preciso levar em consideração que uma criança com dois anos apenas está começando a falar e que o seu pensamento não é tão complexo para entender uma história com começo, meio e fim, e nem histórias longas como as da Disney.  Elas não vão prestar atenção mesmo, pois não possuem formação de pensamentos para isto. Novamente a professora me questionou perguntando se ela não teria que estimulá-las para que aprendessem? Respondi que sim! Que temos que estimulá-las, porém, tudo tem a idade certa para se fazer. Querer pular etapas é como pedir para alguém subir o último degrau de uma escada sem ter percorrido os primeiros, ou seja, tudo tem uma sequência em nossas vidas.


Não se deve exigir de crianças com dois anos de idade que fiquem sentados por muito tempo e fixos em uma atividade somente; isso não é para a idade deles. Se conseguirem ficar sentados por cinco minutos para ouvirem uma história, isso já é muito porque como seus pensamentos ainda não são complexos eles logo mudam para fazer outra atividade. Portanto, conhecer as características de cada idade é fundamental para saber proporcionar estímulos adequados à faixa etária e ao tempo de cada criança. Conhecer como se dá o desenvolvimento físico, mental, social e psicológico, a cada mês, é fundamental para se trabalhar na profissão professora de educação infantil. Não saber como se dá este desenvolvimento pode se correr o risco de colocar a culpa da não aprendizagem nas crianças, quando o problema está na professora, na maneira como ela entende a criança, a infância e sua metodologia de ensino.  

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