terça-feira, 12 de maio de 2015

“Será que posso usar o banheiro em paz, pelo menos um minutinho?”

Uma mãe se queixou de que sua filha é muito grudada com ela e que nem para ir ao banheiro a menina se solta, que fica na porta o tempo todo. Com essa queixa, ela me pediu socorro e eu acabei lhe fazendo alguns questionamentos: Você, mãe, se sente segura para deixar sua filha de quatro anos sozinha enquanto você vai ao banheiro? Ela me respondeu que não, que tem medo da menina se machucar, de pegar alguma coisa e quebrar, de aprontar alguma coisa e de que algo ruim possa lhe acontecer. Que ela sempre fica atenta, de olho aberto onde a filha está, onde está mexendo, o que está fazendo, etc, o dia todinho! Disse, também, que ela não se perdoaria se alguma coisa acontecesse com a menina. Tornei a lhe perguntar: O que você diz para ela quando quer ir ao banheiro e ficar sozinha? Não digo nada; saio de fininho para que ela não perceba, mas se eu me ausento, se ela não me vê, fica me procurando e começa a chorar.

Bem, o caso é mais complicado do que vocês imaginam. Na verdade, essa mãe é completamente insegura e possui medos de que a criança se machuque, de que ela morra. Enfim, essa mãe se sente cobrada por ela mesma, tendo que ser uma excelente mãe, uma perfeita guardiã da filha 24 horas por dia! E isto, como não é normal e nem saudável, a está levando à exaustão, é óbvio! Ninguém consegue ser o guarda-costas de ninguém o tempo todo! Principalmente dentro de casa, quando se supõe que esse lugar seja um espaço de conforto, de relaxamento, de descontração!

Todos nós precisamos de espaço para nós mesmos, até para percebermos quem somos e o que queremos. Perguntei a ela por que se sente tão cobrada e ela me respondeu que não teve mãe, que ela ficou órfã aos dois anos de idade, e que foi criada pelo pai e pelos irmãos mais velhos. Por isso, ela sentia que sua filha deveria ter a presença constante de sua mãe lhe dando atenção e proteção!
Pois bem, o caso é grave mesmo: ela não possui referência de ser mãe, porque não teve, e o medo da morte, da perda, vem por conta da morte da mãe. Ela me relatou, também, que outras pessoas da família que estão a sua volta cobram para que ela seja uma excelente mãe, que não precisa trabalhar fora porque o que o marido ganha é mais do que suficiente para manter a família, enfim, essas coisas acabaram por torná-la cada vez mais obrigada a desempenhar uma excelente função materna. Aconselhei-a a procurar ajuda de um especialista e resolvi contar esta história para que as pessoas não julguem o comportamento de alguém apenas pela aparência dos fatos, já que nós não sabemos o que cada um sente dentro de si, qual é a história que se traz registrada na memória das emoções. Esta cobrança é algo que vem de sua infância e precisa ser trabalhada para que ela não prejudique o desenvolvimento de sua filha, afinal, essa criança precisa aprender a “respirar sozinha”!


Então, não é a menina que não a deixa sozinha para ir ao banheiro, mas é ela que tem a insegurança dentro de si e que não deixa a filha sozinha por nem um minuto apenas!  A criança aprende e sente o que o adulto está fazendo. Essa mãe precisa de ajuda para que ela se sinta forte o suficiente para deixar sua filha sozinha por 5 ou 10 minutos, sem ter medo de que algo ruim possa lhe acontecer.

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