quarta-feira, 13 de maio de 2015

“Você é feio, gordo e burro, eu não quero brincar com você”

Uma professora me relatou que dois meninos estavam brincando, quando um deles expressou verbalmente a frase acima, e que ela não sabia o que fazer, porque ninguém queria brincar com o garoto que está acima do peso, que transpira bastante, que não aguenta correr ou mesmo fazer uma atividade interessante! Disse que nas brincadeiras de corrida, ou competição entre equipes, as crianças até choravam porque não queriam o garoto no grupo e falavam abertamente, para quem quisesse ouvir, que se o menino entrasse no grupo deles eles iriam perder porque ele não aguentava correr. Desesperada, essa educadora me pediu auxílio.

Isto é muito sério e corriqueiro de acontecer nas instituições de ensino. Propus à professora que não incentivasse, por enquanto, brincadeiras de corridas, ou mesmo as que envolvessem exercício físico que ele não conseguisse realizar a contento.  Depois, pedi que fizesse dinâmicas nas quais as crianças se reconhecessem em suas dificuldades, ou seja, atividades que mostrassem ao grupo todo as facilidades que alguns têm em alguns aspectos, e as dificuldades também. Existem algumas dinâmicas infantis de reconhecimento do próprio corpo e de sua capacidade cognitiva. Pedi que não conversasse com o grupo todo na frente do menino, mas que esclarecesse a todos que ser gordo pode ser uma doença física, e que conversasse sobre o problema obesidade sem expor o garoto. Que eles se colocassem no lugar do menino, se gostariam de serem chamados de feios, gordos ou burros... que pensassem antes de ofender alguém, que não fizessem para o outro aquilo que eles não gostariam que alguém fizesse para eles, enfim, propus à professora que trabalhasse com o grupo o processo de exercer a alteridade, o que em psicologia é se colocar no lugar do outro na relação interpessoal. Este conceito é aprendido, e devemos educar as crianças desde pequenas a ter este comportamento. Mas isto deve ser vivenciado sem castigos ou chantagens, e sim exercitando a amorosidade de uns pelos outros.

Indiquei, também, que ela procurasse os pais do garoto para saber por que ele está acima do peso, se é uma doença física, emocional ou até mesmo alimentação inapropriada. Disse a ela que é importante, como professora, saber do que se trata para propor dinâmicas que ajudem este menino a superar este problema e a conseguir interagir com a sala de forma harmônica e respeitosa. Por exemplo, se é por conta de alimentação, na escola ela poderá propor situações que envolvam frutas na alimentação das crianças, explicações sobre a função dos alimentos e nutrientes em nosso organismo, enfim, sugeri que ela soubesse do problema, para depois agir; mas nunca expor o fato abertamente na frente do garoto.


Nenhum comentário:

Postar um comentário