terça-feira, 18 de novembro de 2014

Linguagem infantil: cópia de suas referências

Uma criança de alto poder aquisitivo familiar convivia mais com os empregados de sua casa do que com os próprios pais, pois os mesmos viviam viajando a trabalho. Seus pais pagavam a melhor escola bilíngue da região de Campinas, achando que estavam fazendo o melhor para seu filho.  Não vou aqui entrar em polêmicas quanto à escola, mas quero que reflitam sobre o que aconteceu.

Um belo dia, a criança verbalizou uma fala assim para seus pais: “eu vô ponhá o copo aí em cima mesmo”; eles ficaram horrorizados e corrigiram na hora a criança. Na cena, chega a empregada e diz à criança “mais você ponhô o lanche na mochila?”, ou seja, a criança estava verbalizando a sua referência de linguagem, a fala dos empregados da casa, que eram as pessoas com quem ela realmente conversava e se comunicava; afinal, essa criança convivia mais tempo com eles do que com seus pais, e na escola ela estava aprendendo a se comunicar apenas em inglês.

Não adianta pagar escolas caras achando que seus filhos irão espelhar uma cultura elitizada, aprendendo a falar e a escrever de forma correta, se sua referência é alguém que fala o linguajar extremamente distante da norma culta; isto é uma questão de lógica. Aprendemos com quem temos afeto, com quem cuida de nós nos propiciando uma comunicação diante de questões práticas que tem a ver com a nossa vivência corriqueira do dia a dia. De minha parte, aposto que esta criança tem muito afeto pela empregada, uma vez que esta passa a maior parte do tempo com ela, inclusive na hora de dormir. É ela quem cuida de sua roupa, cozinha a sua refeição ─ muitas vezes seguindo um cardápio agradável ao paladar infantil ─ que dorme com esta criança em seu quarto, acolhe-a dos medos noturnos...já que os pais sempre estão viajando a trabalho e negócios.  Podem ter certeza de que muitas vezes a criança até prefere ficar com a empregada ─ que está 24horas por perto ─ do que com seus pais que estão a maior parte do tempo ausentes. Se até mesmo em viagens de férias para o exterior a empregada vai junto, para tomar conta da criança, quem mais parece fazer o papel da mãe e/ou de pai?


Por isto digo: cuidado quando querem corrigir seus filhos! Observem, antes, qual a referência que eles estão imitando (copiando); se eles convivem mais tempo com pessoas que falam de forma não escolarizada, é com eles que vão aprender a se comunicar e a falar o português, já que o inglês vai ficar por conta da escola bilíngüe, certo? A vida é feita de escolhas. E depois, não reclamem.

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