Uma criança de alto poder
aquisitivo familiar convivia mais com os empregados de sua casa do que com os próprios
pais, pois os mesmos viviam viajando a trabalho. Seus pais pagavam a melhor
escola bilíngue da região de Campinas, achando que estavam fazendo o melhor
para seu filho. Não vou aqui entrar em
polêmicas quanto à escola, mas quero que reflitam sobre o que aconteceu.
Um belo dia, a criança verbalizou
uma fala assim para seus pais: “eu vô ponhá o copo aí em cima mesmo”; eles
ficaram horrorizados e corrigiram na hora a criança. Na cena, chega a empregada
e diz à criança “mais você ponhô o lanche na mochila?”, ou seja, a criança
estava verbalizando a sua referência de linguagem, a fala dos empregados da casa,
que eram as pessoas com quem ela realmente conversava e se comunicava; afinal,
essa criança convivia mais tempo com eles do que com seus pais, e na escola ela
estava aprendendo a se comunicar apenas em inglês.
Não adianta pagar escolas caras
achando que seus filhos irão espelhar uma cultura elitizada, aprendendo a falar
e a escrever de forma correta, se sua referência é alguém que fala o linguajar
extremamente distante da norma culta; isto é uma questão de lógica. Aprendemos
com quem temos afeto, com quem cuida de nós nos propiciando uma comunicação
diante de questões práticas que tem a ver com a nossa vivência corriqueira do
dia a dia. De minha parte, aposto que esta criança tem muito afeto pela
empregada, uma vez que esta passa a maior parte do tempo com ela, inclusive na
hora de dormir. É ela quem cuida de sua roupa, cozinha a sua refeição ─ muitas
vezes seguindo um cardápio agradável ao paladar infantil ─ que dorme com esta
criança em seu quarto, acolhe-a dos medos noturnos...já que os pais sempre estão
viajando a trabalho e negócios. Podem
ter certeza de que muitas vezes a criança até prefere ficar com a empregada ─ que
está 24horas por perto ─ do que com seus pais que estão a maior parte do tempo
ausentes. Se até mesmo em viagens de férias para o exterior a empregada vai
junto, para tomar conta da criança, quem mais parece fazer o papel da mãe e/ou
de pai?
Por isto digo: cuidado quando
querem corrigir seus filhos! Observem, antes, qual a referência que eles estão
imitando (copiando); se eles convivem mais tempo com pessoas que falam de forma
não escolarizada, é com eles que vão aprender a se comunicar e a falar o
português, já que o inglês vai ficar por conta da escola bilíngüe, certo? A
vida é feita de escolhas. E depois, não reclamem.
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